Barrete de marca, mas barrete na mesma
Desilusão da temporada? Nem o elenco de luxo consegue salvar "ANIMAIS NOCTURNOS", com Tom Ford indeciso entre o tom que quer dar ao seu segundo (e interminável) filme.
Se há trailers que contam praticamente toda a história do filme, o de "ANIMAIS NOCTURNOS" faz precisamente o oposto: promete um thriller piscológico negro, insinuante e magnético, com apuro visual à altura, mas está muito longe daquilo que o sucessor de "Um Homem Singular" (2009) tem para oferecer.
Embora na estreia na realização Tom Ford tenha dado um salto surpreendente e elogiado da moda para o cinema, à segunda o efeito fica muito aquém do estatuto de promessa. Esta adaptação do romance "Tony and Susan", de Austin Wright, tem na verdade muito pouco de nocturno ao apostar numa lógica de livro dentro do filme que vai trocando o universo da alta sociedade do arranque - atmosfera que o realizador capta com alguma energia - por uma trama policial tão derivativa e sem sinais particulares como a de muitas séries de investigação de linha de montagem.
A história da pobre menina rica - uma negociadora de arte em crise de meia idade algo antecipada - já não é propriamente o material mais fascinante ou original, mas Ford ainda consegue apresentá-la com alguma ironia e peso dramático enquanto vai exibindo uma colecção de ambientes importados de David Lynch ou Nicolas Winding Refn. Só que depois de uma primeira meia-hora sedutora q.b., o filme perde-se irremediavelmente ao levar-se demasiado a sério numa banal história de vingança, que só a espaços recupera o sarcasmo inicial.
A trama do subenredo que acaba por tomar conta da narrativa mostra-se tão arrastada e redundante que nem os actores são capazes de fazer muito para ajudar. Pior: as personagens são tão planas que Jake Gyllenhaal acaba por ter aqui um desempenho inesperadamente cabotino, daqueles que só mesmo vendo é que se acredita (e que nem sequer é temperado com algum humor que pudesse ampará-lo, pelo menos em parte). Amy Adams faz o que pode com a caricatura de mulher amargurada que o argumento lhe oferece, apesar de tudo preferível à de Michael Shannon, que faz de polícia desbocado com uma perna às costas. Ironicamente, o actor menos cotado deste núcleo, Aaron Taylor-Johnson, é o que deixa o desempenho mais convincente, na pele de um crimonoso lunático - que, de qualquer forma, não contribuiu para dar grande densidade a estas figuras.
"ANIMAIS NOCTURNOS" até pode fazer vista pela chuva de estrelas, do realizador ao elenco, e por estar forrado numa fotografia e banda sonora lustrosas, só que nada disso chega quando o resultado é tão atabalhoado, ao longo de duas horas que parecem insistir em não terminar. Cinema de griffe, mas menos satisfatório do que muita marca branca...