Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

55 de 2016

50_de_2016

 

Organizar uma lista de melhores do ano no cinema, na televisão e na música numa altura em que, como nunca antes, há filmes, séries e álbuns em doses industriais e em cada vez mais plataformas só pode pecar por defeito. Mas quantidade não é necessariamente sinónimo de qualidade, sobretudo quando chegam a estrear dez filmes em algumas semanas sem que muitos dos mais discretos (e às vezes mais interessantes) consigam ter tempo de aquecer as salas (como "O Inimigo da Turma", "A Filha" ou tantos outros poderão confirmar). O mesmo vale para o pequeno ecrã, com a "idade de ouro" da televisão a debitar tantas novidades que se torna difícil manter uma relação fiel com mais de meia dúzia de séries em simultâneo. E também já lá vai o tempo em que a ligação a um álbum podia durar meses, ou pelo menos semanas, quando a nova promessa ou suposta epifania do momento pode ser ouvida num encontro imediato via streaming - mesmo que nem chegue a haver um segundo contacto. Por outro lado, quando a oferta é tanta e tão recorrente, a tradição do top anual talvez faça ainda mais sentido, nem que seja para ir obrigando a lembrar o que vale mesmo a pena reter dos últimos meses. E 2016 foi bem melhor quando contou com estes 55 para ver e/ou ouvir:

 

10 FILMES

 

O_Inimigo_da_Turma

 

"Agnus Dei - As Inocentes", Anne Fontaine
"Ela", Paul Verhoeven
"Ensurdecedor", Joachim Trier
"A Filha", Simon Stone
"O Inimigo da Turma", Rok Bicek
"Meu Rei", Maïwenn
"Muito Amadas", Nabil Ayouch
"Mustang", Deniz Gamze Ergüven
"Regresso a Ítaca", Laurent Cantet
"Suburra", Stefano Sollima

 

Fora de circuito: "Spa Night", Andrew Ahn (no QueerLisboa)
Maior perda de tempo: "Nem Respires", Fede Alvarez

 

10 SÉRIES

 

BLOODLINE

 

"The Americans" (T4), FOX
"Atlanta" (T1), FX
"Black Mirror" (T3), Netflix
"Bloodline" (T2), Netflix
"The Expanse" (T1), Syfy
"O Gerente da Noite", AMC/BBC One
"The Get Down" (T1), Netflix
"A Guerra dos Tronos" (T6), HBO
"House of Cards" (T4), Netflix
"London Spy", BBC Two

 

Desilusão do ano: o regresso de "Ficheiros Secretos"

 

10 DISCOS

 

Musician PJ Harvey beside River Anacostia. Anacostia. SE Washington D.C. April 2014

 

"Amnesty (I)", Crystal Castles
"Ash & Ice", The Kills
"Chaosmosis", Primal Scream
"Distortland", The Dandy Warhols
"Mirage", Digitalism
"Silver Souls", Compact Disk Dummies
"The Hope Six Demolition Project", PJ Harvey
"The Triad", Pantha Du Prince
"They Moved in Shadow All Together", Emily Jane White
"United Crushers", Poliça

 

Desilusão do ano: "Strange Little Birds", Garbage

 

5 DISCOS NACIONAIS

 

Throes+The_Shine

 

"Acho que é meu dever não gostar", Señoritas
"Língua", Octa Push
"Miopia", Osso Vaidoso
"Terra do Corpo", Medeiros/Lucas
"Wanga", Throes + The Shine

 

15 CANÇÕES

 

Bat_for_Lashes

 

"100% or Nothing", Primal Scream
"Ablaze", School of Seven Bells
"Anxiety", Preoccupations
"Apathy", Night Shade
"Baroque", Xeno & Oaklander
"Burn", Pet Shop Boys
"Close Encounters", Bat For Lashes
"D7-D5", Blanck Mass
"Falling", Beth Orton
"Let It Drop", The Kills
"Nightmares on Repeat", Emily Jane White
"STYGGO", The Dandy Warhols
"The Wheel", PJ Harvey
"Utopia", Digitalism
"You Want It Darker", Leonard Cohen

 

5 CONCERTOS

 

The_Kills_Foto_Rita_Sousa_Vieira

 

The Comet is Coming no FMM Sines
Crystal Castles no Paradise Garage
Florence + The Machine no MEO Arena
The Kills no Coliseu dos Recreios
PJ Harvey no Coliseu dos Recreios

 

Barretes do ano: Anohni no Coliseu dos Recreios e Tricky na Aula Magna

 

Fundo de catálogo (104): George Michael

Como melhorar o que já era muito bom? GEORGE MICHAELde quem fomos obrigados a despedir-nos no domingo, deixou uma resposta possível numa versão/mashup/remistura que nem precisou de se desviar assim tanto dos originais para deixar a sensação de novidade e, sobretudo, de reinvenção inspirada.

 

george_michael

 

A história do parto de "KILLER / PAPA WAS A ROLLIN' STONE" é logo invulgar, uma vez que GEORGE MICHAEL já tinha o tema entre os trunfos das suas actuações desde 1991 antes de o editar em algumas versões do EP "Five Live", em 1993. O disco registava uma pequena parte do concerto de tributo a Freddie Mercury, na Wembley Arena, em Londres, no ano anterior, que juntou o ex-Wham!, os Queen e Lisa Stansfield, entre muitos outros, embora apenas tenham sido editadas as colaborações desses três artistas.

 

"KILLER / PAPA WAS A ROLLIN' STONE" nem fez parte do alinhamento desse espectáculo, mas de um outro de GEORGE MICHAEL no mesmo espaço, no qual o britânico apostou no cruzamento do single de Adamski que a voz Seal ajudou a tornar num sucesso global em 1990 com "Papa Was a Rollin' Stone", canção dos anos 70 originalmente interpretada pelos The Undisputed Truth que atingiria o estatuto de clássico através dos Temptations.

Revisitados num medley com tanto de atípico como de arriscado, os temas transfiguraram-se numa fusão capaz de ser tradicional e futurista, acústica e electrónica, mergulhando na acid house, na soul, no rock, no funk ou no gospel e convocando sopros, cordas, percussão, teclados ou sintetizadores, que acompanharam as vozes de GEORGE MICHAEL e de um coro feminino.

O resultado era demasiado bom para ficar confinado à memória dos que estiveram nos concertos ou que ouviram o registo gravado no EP, e felizmente ganhou novo embalo rítmico no retratamento dos P.M. Dawn, com duas misturas - uma de nove minutosoutra mais curta -, e sobretudo na versão finalmente editada em single, de longe a mais popular do tema.

 

killer

 

"Killer" contou aí com uma moldura menos robótica do que a da matriz de Adamski, à semelhança do registo dos palcos, e "Papa Was a Rollin' Stone" deu o mote com o arranjo sinfónico antes de se tornar dominante na segunda metade. E dessa combinação surgiu um dos melhores exemplos da abertura de GEORGE MICHAEL a uma pop de horizontes largos no seu percurso a solo, impensável para alguns dos que o tinham ouvido na dupla de "Last Christmas" ou "Wake Me Up Before You Go-Go".

Peça fulcral para que o single tenha lugar cativo entre os mais populares do seu tempo, o brilhante videoclip de Marcus Nispel retomou temas como a solidão, liberdade ou racismo, já presentes no original de "Killer" e sublinhados na discografia do autor de "Listen Without Prejudice Vol. 1" (1990) e "Older" (1996), cujo cunho social e politico estaria presente até "Patience" (2004).

GEORGE MICHAEL fez questão de não aparecer no vídeo, para que a sua imagem não tivesse mais peso do que a música, e o realizador alemão inspirou-se nos universos da publicidade ou da moda numa das peças audiovisuais mais icónicas da geração MTV, primorosamente fotografada a preto e branco - mas se na altura era presença constante no canal de música, hoje será mais fácil encontrá-lo noutras plataformas. Abaixo ficam duas versões da canção: a do single e a da actuação no Rock in Rio de 1991, mais próxima do registo do EP "Five Live". E são ambas essenciais, seja para fãs confessos do britânico ou apreciadores de alguma da pop mais desafiante das últimas décadas:

 

 

Pág. 1/5