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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Fundo de catálogo (106): Blur

blur-1997

Há 20 anos, os BLUR disseram adeus aos trompetes. O quinto álbum dos britânicos, editado a 10 de Fevereiro de 1997, não é homónimo por acaso, ao ter surgido na ressaca da fama acumulada por "Parklife" (1994) e "The Great Escape" (1995). Depois desses dois marcos da euforia britpop, o risco de a banda ficar refém de um público adolescente (entretido pela guerra com os Oasis alimentada por alguma imprensa) impôs um virar de azimutes de parto doloroso que redefiniu a identidade do projecto.

Graham Coxon propunha fazer um disco que ninguém quisesse ouvir. Damon Albarn não queria abdicar da melodia, mas acedeu ao interesse do guitarrista por algum rock alternativo norte-americano (o dos Pavement, Dinosaur Jr. ou Beck). E dessa influência resultou um álbum surpreendentemente agreste e enxuto, com uma sensibilidade lo-fi a milhas da pompa orelhuda de outros tempos. No Reino Unido, a crítica vaticinou o suicídio comercial, mas o primeiro single, "Beetlebum", teve resposta imediata e o segundo, "Song 2", tornou-se um clássico instantâneo e fez a ponte com o outro lado do Atlântico que o grupo tentava há muito:

Ouvido à distância de duas décadas, "BLUR" soa menos datado do que os antecessores e tem algumas das alianças mais desafiantes entre composição e produção do quarteto. O devaneio spoken-word de "Essex Dogs", a fechar, abre a porta à electrónica exploratória que teria mais peso no sucessor, o ainda melhor "13" (1999). A atmosfera entre o críptico e o melancólico de "Death of a Party" já deixava pistas do lado mais sombrio dos Gorillaz (basta contrastá-la com o clássico "Tomorrow Comes Today") enquanto que "Chinese Bombs" antecipava a faceta punk da banda cartoon. Já a discreta "You're So Great" encorajou o profícuo percurso a solo de Graham Coxon e ainda está entre as suas canções de antologia, tão simples como desarmante - e um dos momentos mais corajosos de um álbum que não se esgota nos singles.

Amores imaginários

formation

 

"Moonlight" numa carruagem do metro? Com o filme de Barry Jenkins ainda fresco nas salas de cinema, é difícil não pensar nele ao ver o videoclip de "A FRIEND", o novo single dos FORMATION, que parece ensaiar uma versão muito condensada de alguns elementos desse drama.

 

Em pouco mais de três minutos, esbate-se a fronteira entre a amizade e o amor na relação destrutiva (e fisicamente violenta) de dois rapazes, com alusões ao bullying e à homofobia - aqui não numa comunidade afro-americana, como no filme, mas presumivelmente no centro de Londres.

 

Will Ritson, o vocalista da banda britânica, é um dos protagonistas do vídeo e tem referido que as imagens tornam mais óbvia a diluição entre o papel de amigo e amante sugerida pela letra, vertigem consolidada pelo início acelerado do tema, com cowbell a marcar o ritmo, e um refrão eufórico e galvanizante. O resultado é um pedaço enérgico de indietrónica que não destoaria ao lado dos melhores singles de uns Friendly Fires ou The Shoes e abre caminho para o álbum de estreia do quinteto, "Look at the Powerful People", que chega a 24 de Março: