Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Uma história simples (e artesanal)

Nomeado para o Óscar de Melhor Filme de Animação, "A MINHA VIDA DE COURGETTE" é das melhores propostas dos 7 aos 77 em cartaz, depois de ter ganho o Grande Prémio da Monstra este ano. E merece ter público à altura dos elogios.

Courgette

Apesar da estreia relativamente discreta por cá, a primeira longa-metragem do suíço Claude Barras despertou atenções em Cannes, onde foi exibida no ano passado, e acumulou distinções nos Césares ou nos Prémios do Cinema Europeu, além de ter sido nomeada para uma estatueta dourada.

O aplauso crítico é mais do que merecido, mas "A MINHA VIDA DE COURGETTE" também é um filme com potencial para agradar a um público igualmente vasto, pela forma como propõe uma história de recorte clássico, ancorada na infância e na diferença, apresentada com ideias visuais fortes (em stop motion, com marionetas animadas fotograma a fotograma) e uma maturidade emocional que não a restringe aos espectadores mais jovens.

O arranque, aliás, é logo um exemplo de economia narrativa de uma obra que não precisa de muito mais de uma hora para expressar o que tem a dizer. E consegue dizer bastante, desde um início vincado pela solidão e pela tragédia - a deixar claro que este não é um filme de animação inócuo - até ao processo de adaptação do protagonista, Icare (mas que prefere ser chamado de Courgette), um órfão entregue a um centro de acolhimento infantil.

Courgette

Várias vezes melancólica sem nunca deixar de ser calorosa, a fita baseia-se no livro "Autobiographie d'Une Courgette" (2002), do francês Gilles Paris, e conta com argumento adaptado pela conterrânea Céline Sciamma, já habituada aos universos da infância e da adolência depois de ter realizado os dramas "Naissance des pieuvres", "Maria-Rapaz" e "Bando de Raparigas". 

Claude Barras também se saiu bem na escolha de outros colaboradores. É o caso da cantautora suíça Sophie Hunger, que assina a banda sonora instrumental, entre a folk e o rock, e canta ainda uma bela versão de "Le Vent nous emportera", dos Noir Désir. Tão ou mais inesperados (e certeiros) são os acessos punk, através de "Salut à toi", dos franceses Bérurier Noir, e sobretudo new wave, com o irresistível "Eisbar", dos suíços Grauzone, a animar uma festa no meio das montanhas.

Esta conjugação inspirada entre um argumento seguro, atento a questões sociais (até passa pelo tema das migrações europeias com subtileza), e um cuidado sonoro tão ou mais acentuado (não só na música mas também pelas vozes das personagens) valoriza ainda mais o trabalho de animação artesanal, a implicar uma dedicação rara nos tempos que correm. A produção demorou três anos e o resultado final espelha essa paciência e minúcia sem nunca ser ostensivo, equilibrando técnica e coração numa história de desajustados emotiva mas enxuta. Venha o que vier, está aqui um dos filmes mais bonitos do ano...

3,5/5

Há já muito tempo que nesta discografia o ar se tornou irrespirável

ema

 

Através de "Past Life Martyred Saints" (2011) e "The Future's Void" (2014), Erika M. Anderson, ou EMA, ganhou lugar entre as cantautoras a ter em conta reveladas esta década, depois de um percurso mais discreto ao lado dos Amps for Christ e Gowns ou de um álbum de estreia ("Little Sketches on Tape", 2010) de divulgação restrita.

 

"Exile in the Outer Ring", o próximo disco da norte-americana, chega a 25 de Agosto, pela City Slang, e deverá ser dos mais atípicos da silly season, pelo menos se mantiver o rock agreste cruzado com electrónica, acessos folk e viragens noise dos anteriores.

 

As canções mais recentes dão a entender que a calmaria continua a não morar por estes lados. "Aryan Nation" tenta medir o pulso do mundo em 2017, ambição que se estende a um lyric video que aglomera mais temas do que os que consegue agarrar. Já "BREATHALYZER", divulgada há poucos dias, dá mais protagonismo aos sintetizadores do que às guitarras num registo desacelerado, mas não menos intenso, e tão dopado como o casal que o videoclip acompanha ao longo de uma viagem nocturna. Álbum mais invernoso deste Verão?

 

 

Pág. 1/7