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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Anatomia de um videoclip

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Encorajada por colaboradores como Daniel Avery ou Ghost Culture a experimentar ambientes electrónicos - depois de um percurso ligado ao rock alternativo -, KELLY LEE OWENS estreou-se a solo com um disco homónimo que tem sido dos mais aclamados do ano. E em algumas faixas também chega a ser dos mais bonitos, à custa da ponte entre a dream pop e a música de dança (nunca muito acelerada) proposta ao longo do alinhamento.

 

"THROWING LINES", a lembrar os tempos mais enigmáticos e inspirados de Grimes, está entre os bons motivos para ter o disco por perto e torna-se alvo de atenção reforçada graças ao videoclip, um falso making of com uma homenagem irónica aos vídeos feitos por fãs. Realizado por Kasper Häggström e protagonizado por dois voluntariosos adolescentes escandinavos, junta drones e neve num cenário crepuscular e mostra que o humor é compatível com a música sóbria e introspectiva da cantautora galesa:

 

 

Quando a reciclagem dá em lixo cósmico

"Prometheus" não deixou muitas saudades, mas "ALIEN: COVENANT" consegue ser ainda mais frustrante e derivativo. E é também, com larga distância, o capítulo mais medíocre da saga espacial de Ridley Scott.

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O verdadeiro vilão de "ALIEN: COVENANT" não é tanto a mítica espécie alienígena devoradora de humanos. Nem andróides de intenções duvidosas, cada vez mais dominantes nesta saga. Nem sequer a inacreditável incompetência da equipa da nave que dá título ao sexto capítulo da longa aventura espacial. A maior ameaça aqui é antes a insistência de Hollywood em capitalizar a nostalgia, sobretudo de meados dos anos 80 (e proximidades), que quase nunca tem corrido bem e escorrega aqui para um nível criativo particularmente baixo.

Se "Prometheus" ainda tentou, há cinco anos, alargar as fronteiras deste mundo, com outros tons e narrativas, mesmo que não tenha ido além de um falhanço ocasionalmente interessante, esta sequela dessa prequela (e há mais duas a caminho) é o primeiro capítulo da saga que se esgota na mera reciclagem.

Quer se goste mais ou menos das propostas de James Cameron, David Fincher ou Jean-Pierre Jeunet, todas contaram com um olhar singular depois de "Alien: O Oitavo Passageiro" (1979). E o próprio criador da saga arriscou qualquer coisa quando regressou ao comando no filme de 2012. Mas "ALIEN: COVENANT" é Ridley Scott mais acomodado do que nunca, com uma revisitação tão preguiçosa que cai na regurgitação.

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Ao longo de duas horas que parecem teimar em não acabar (e demoram a arrancar), o que aqui se encontra é pouco mais do que uma súmula dos códigos que o primeiro filme ajudou a tornar norma, mas servida de forma tão mecânica e inócua como os piores sucedâneos (mesmo que o inevitável orçamento chorudo ajude a tornar o cenário mais vistoso). 

Se as personagens são só carne para canhão, para quê tanto tempo a apresentá-las e a denunciar, logo aos primeiros minutos, uma falta de ritmo que mina o potencial de entretenimento? Não seria muito grave caso o apelo à reflexão compensasse, mas também aí "ALIEN: COVENANT" se limita a sublinhar questões (sobretudo relacionadas com a inteligência artifical) já centrais em "Prometheus". E que até fazem, na verdade, mais sentido em "Blade Runner" (desde a cena inicial, apesar de tudo uma das mais conseguidas), além de terem tido abordagens muito mais frescas e desafiantes noutros universos. Qualquer episódio da série "Humans", por exemplo, é mais intrigante, emotivo e profundo do que a discussão linear e sisuda que Michael Fassbender é obrigado a debitar aqui.

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Mas mais triste do que o repisar cansativo de temáticas ou o amadorismo dos diálogos e da construção de personagens (salva-se, com esforço, o andróide apresentado em "Prometheus") é, de longe, o artificialismo CGI dos próprios aliens, vulgaríssimas figuras saltitantes a milhas das criaturas imponentes e palpáveis dos filmes anteriores, com direito a corpo, presença e fluídos.Um monstro destes merecia melhor sorte do que a de muleta de sequências de acção banais, com sustos tão telegrafados como o suposto twist insultuoso lá para o final - que Scott encena com pompa e circunstância mas é só o último prego no caixão.

Para uma reciclagem de "Alien: O Oitavo Passageiro" digna, despachada, divertida e com gente e ameaças a sério lá dentro, mais vale (re)ver "Vida Inteligente", de Daniel Espinosa, também deste ano, que só reforça a embaraçosa condição de nado morto deste "ALIEN: COVENANT".

1/5