Veteranos mas flexíveis
Ao décimo álbum, os GUSGUS continuam a ser uma das exportações pop islandesas mais confiáveis e uma das certezas da música de dança actual. E "LIES ARE MORE FLEXIBLE" nem precisa de acrescentar muito ao que já fizeram...
Nunca tiveram a popularidade de Björk, nunca contaram com o culto ao nível do que os Sigur Rós conseguiram nos primeiros tempos, mas mais de 20 anos depois de "Polydistortion" (1997), o álbum que os deu a conhecer fora de portas, os GUSGUS podem orgulhar-se de um digno percurso entre a pop e a música de dança - e talvez até menos irregular do que o desses seus conterrâneos.
Em 2018, o projecto que começou como colectivo multidisciplinar regressa no formato de dupla composta pelos veteranos Biggi Veira, o único elemento que se manteve desde a formação original, e Daníel Ágúst, a voz mais reconhecível da banda - e a que está no centro de muitos momentos do clássico "This Is Normal" (1999) ou do mais recente e também aconselhável "Mexico" (2014).
Habituados a apostar no formato canção enquanto testam ambientes mais expansivos, os islandeses raramente o fizeram de forma tão equilibrada (e sobretudo compartimentada) como aqui. A primeira metade do alinhamento, mais imediata, assenta na voz de Ágúst e em ritmos mais dançáveis, partindo de "Featherlight" (o promissor single de apresentação, já revelado no ano passado). A segunda dispensa o vocalista e retoma a vertente instrumental que dominou a colaboração "Gus Gus vs. T-World" (2000), da qual um tema como "Fuel" parece ser descendente directo.
Com quase oito minutos de duração, essa faixa, que encerra o disco, é a mais longa e também a mais estimulante na conjugação de house progressiva, techno e trance, com um crescendo que se vai aproximando de ambientes espaciais. Mais directo e acelerado, o tema-título é outro instrumental de boa colheita, a confirmar a eficácia dos GUSGUS para as pistas de dança, e "No Manual" chega a lembrar a electropop do também nórdico Kleerup, com sugestões de melancolia sem abdicar da pulsão rítmica.
Um tom mais invernoso marca ainda "Don't Know How to Love", conduzida por Ágúst mas com a voz de John Grant nos coros. O norte-americano é o único convidado de um disco que acaba por estar bem entregue ao duo que compõe os GUSGUS em 2018, cujo savoir faire tem em "Lifetime" um dos melhores exemplos. Concentrado de euforia contagiante a pedir uma multidão com braços no ar, é um óbvio candidato a single, mesmo sendo terreno já desbravado pela banda (e basta recuar até "Airwaves", um dos pontos altos de "Mexico", por exemplo).
Se "LIES ARE MORE FLEXIBLE" assegura mais uma evolução na continuidade do que um corte com o que está para trás, não deixa de ser envolvente e menos disperso do que alguns discos anteriores do grupo. Também ajuda contar com apenas oito faixas (das quais "Towards Storm" é um interlúdio), enquanto confirma que os GUSGUS continuam flexíveis - e aqui mostram como menos pode ser mais.
3,5/5