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Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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Quem matou Brenton Butler?

"SEVEN SECONDS", a nova série de Veena Sud depois de "The Killing", retoma os códigos do policial e, mais uma vez, o estudo de personagens sobrepõe-se às reviravolas da investigação. Um desempenho memorável de Regina King e o último trabalho de Jonathan Demme atrás das câmaras estão entre os bons motivos para espreitar a aposta da Netflix.

Seven Seconds

Tal como já tinha acontecido na primeira temporada da versão norte-americana de "The Killing", a mais recente série criada por Veena Sud (que acumula ainda as funções de showrunner e produtora executiva) arranca com a morte de um adolescente. Mas se na história anterior a narrativa se desenvolvia de acordo com modelos do "whodunit", onde tanto os protagonistas como os espectadores tentavam descobrir a identidade do assassino, desta vez os segundos estão em vantagem.

As sequências iniciais de "SEVEN SECONDS" não só acompanham a cena do crime como revelam logo quem é o homicida de Brenton Butler, um rapaz afro-americano de Nova Jérsia que morre atropelado enquanto andava de bicicleta (e que pede o nome emprestado a uma figura real que esteve no centro de um caso com outros contornos).

Peter Jablonkski, um polícia novato que se dirigia ao hospital para visitar a mulher, prestes a dar à luz, torna-se no motor de uma investigação polémica ao ser responsável pelo acidente, rapidamente encoberto pelo seu chefe e dois colegas, lançando as bases para uma combinação de drama familiar e exercício de suspense. Se esta já era a fórmula de "The Killing", agora Sud tem o mérito de não deixar arrastar o caso ao longo de duas temporadas (um dos aspectos mais criticados da série anterior), resolvendo-o em dez episódios sem grandes distrações nem palha narrativa.

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No centro da investigação estão, mais uma vez, um homem e uma mulher, e a dinâmica temperamental que se gera chega a lembrar a de Holder e Linden - ele mais espirituoso, ela quase sempre sisuda. Mas é uma aposta que volta a funcionar, em parte graças à química entre o elenco, que aliás se alarga a outras personagens de uma série cujo casting está entre os maiores trunfos. E se Michael Mosley e Clare-Hope Ashitey são convincentes na pele de agentes que tentam contrariar o sistema, Regina King é superlativa enquanto mãe desesperada mas não estereotipada, que chega a ser movida pela vingança quando a justiça parece tardar.

Através da personagem de King e das dos seus familiares, "SEVEN SECONDS" lança também um dos olhares mais amplos e complexos dos últimos tempos sobre a comunidade afro-americana, afastando-se do maniqueísmo de vítimas e carrascos que às vezes domina histórias onde as boas intenções resultam em ficção frustrante. Tanto os pais como o tio de Brenton Butler, assim como outras figuras do seu quotidiano, são suficientemente ambíguos e contraditórios para que não saia daqui um panfleto de uma manifestação "Black Lives Matter" - mesmo que esse movimento esteja certamente na origem de muitas das tensões que a série desenha.

A promiscuidade entre as forças policias e as redes de tráfico de droga, captada com um realismo assinalável, sugere que, além de "The Killing", "SEVEN SECONDS" também é descendente de uma série como "The Wire", ainda que a inspiração oficial seja o filme russo "The Major" (2013), de Yuri Bykov - pelo qual não passava, no entanto, o relato de uma comunidade onde o racismo pesa na construção das personagens.

Seven Seconds 2

Mais do que pela denúncia de um sistema jurídico desigual e viciado, o argumento é especialmente forte quando dá conta de um caminho sem grande luz ao fundo do túnel para figuras desamparadas. É o caso do melhor amigo de Brenton, com uma de várias infâncias refugiadas num gangue local, ou do tio, para quem a única alternativa a essas origens parece ser o exército norte-americano (e do qual só tem apoio quando está, ironicamente, fora do país).

O equilíbrio de "SEVEN SECONDS" também sai reforçado pela realização, cujo tom realista e sóbrio, turvo e invernoso, é dado por Gavin O'Connor ("Warrior - Combate Entre Irmãos", "The Accountant - Acerto de Contas") e Jonathan Demme, que assinam os primeiros episódios. A série marca, de resto, o último trabalho do cineasta de "O Silêncio dos Inocentes" e "Filadélfia", que morreu no ano passado, e deixa um final mais do que digno para uma obra singular. E se é verdade que os últimos capítulos são mais convencionais do que alguns dos desenvolvimentos até aí, concentrando-se talvez em demasia nos ambientes de tribunal, as personagens nunca se tornam instrumentais e Veena Sud consegue manter um drama de câmara envolvente enquanto mede o pulso a uma comunidade.

Infelizmente, e ao contrário de "The Killing", esta história deve ficar mesmo por aqui, uma vez que não foi renovada pela Netflix. Mas não merece ficar entre os segredos bem guardados do serviço de streaming...

3,5/5

Há uma primeira vez para tudo

Jake Shears

 

Enquanto os Scissor Sisters parecem não querer interromper o hiato mantido desde 2012 - data da edição do quarto álbum, "The Magic Hour" -, JAKE SHEARS já anunciou várias novidades nos últimos tempos. Este ano, o vocalista dos nova-iorquinos estreou-se nos palcos da Broadway, com o musical "Kinky Boots", e na escrita, através da edição da autobiografia "Boys Keep Swinging". Mas ainda há mais uma primeira vez a caminho.

 

A 10 de Agosto, chega o álbum de estreia a solo, homónimo, quase todo resultado de uma temporada em Nova Orleães que terá inspirado as canções. Ou pelo menos inspira o primeiro single, "CREEP CITY", cujo videoclip foi rodado por lá e dá seguimento ao ambiente festivo, em modo vaudeville sulista, com SHEARS travestido e centro das atenções de um clube nocturno (a realização é de Mac Boucher, irmão de Claire Boucher, AKA Grimes).

 

Se os dois últimos álbuns dos Scissor Sisters tinham reforçado a carga electrónica, esta amostra sugere um regresso aos primeiros, com os sintetizadores a serem substituídos pelos metais e a discoteca a ceder a vez ao cabaret. Ou seja, a aventura em nome próprio pode ser nova, mas este está longe de ser território inédito para o frontman da banda. Em compensação, é um domínio onde se mostra claramente à vontade - como poucos na pop actual - e essa segurança volta a ser acompanhada de uma energia contagiante. Começa bem, portanto:

 

 

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