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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

As últimas caminhadas (pelo thriller, road movie ou western)

Clint Eastwood, Robert Redford, Joaquin Phoenix e John C. Reilly: quatro interpretações para marcar a temporada, quatro homens em fuga pela América de ontem e de hoje. E protagonistas de três filmes a ver: "CORREIO DE DROGA", "O CAVALHEIRO COM ARMA" e "OS IRMÃOS SISTERS".

Correio de Droga.jpg

"CORREIO DE DROGA", de Clint Eastwood: Apesar de decepções recentes como "Sniper Americano", vale a pena não desistir do realizador de "Um Mundo Perfeito". Aos 88 anos, Eastwood assinala aqui um regresso à forma e parece decidido a contrariar as expectativas de quem tendia a engavetar parte da sua obra na militância republicana - a reboque de algumas declarações de apoio à administração Trump. Um dos trunfos desta combinação de thriller, road movie e relato familiar é, aliás, a forma como desconstrói preconceitos raciais através do protagonista, tornando Earl Stone num descendente espiritual de Walt Kowalski, o protagonista de "Gran Torino", também encarnado pelo realizador. Mas aqui o resultado é bem menos sisudo, temperando com um humor recorrente (e sempre certeiro) um retrato melancólico q.b. do envelhecimento, da solidão e da redenção, que só cede a um ou outro facilitismo dramático mais para o final. Nada que comprometa um olhar com tanto de clássico como de personalizado, capaz de retratar um país a partir da narrativa de um homem ambíguo e carismático - um horticultor octagenário que se torna colaborador de uma rede de tráfico de droga. Talvez ganhasse em concentrar-se também em alguns secundários, porque se Dianne Wiest e Bradley Cooper ainda têm direito a algumas cenas fortes, Laurence Fishburne, Michael Peña ou Andy Garcia são presenças pouco mais do que instrumentais, tal como as personagens da filha e neta do protagonista (a própria Alison Eastwood e Tessa Farmiga, respectivamente). Seja como for, Clint está de volta, impõe respeito e vai despertando alguns sorrisos cúmplices pela estrada fora.

3,5/5

O Cavalheiro com Arma.jpg

"O CAVALHEIRO COM ARMA", de David Lowery: É difícil não simpatizar com aquele que tem sido apresentado como o derradeiro filme com Robert Redford. Mas essa despedida, que inclui uma ode especialmente evidente numa montagem perto do final (a revisitar sequências de papéis anteriores), também limita uma proposta que parece esgotar-se na presença e iconografia do actor. Tal como "Correio de Droga", o argumento parte de uma história verídica, condimenta um thriller com acessos espirituosos e segue um protagonista ambivalente - aqui um assaltante charmoso, muitas vezes bem sucedido sem nunca fazer vítimas. Só que este olhar nostálgico sobre o cinema de outros tempos, do qual Redford foi um dos rostos mais emblemáticos, vai-se tornando redundante de assalto a assalto, com a fúria de viver do protagonista (camuflada por uma delicadeza difícil de quebrar) a ficar aquém de um filme memorável e estimulante. O melhor de "O Cavalheiro com Arma" são mesmo as cenas entre Redford e Sissy Spacek, com uma espontaneidade e embalo que contrastam com a modorra narrativa de demasiados momentos. Culpa do arco do polícia interpretado por Casey Affleck, cuja empatia com o protagonista resulta forçada ("Correio de Droga" sai-se melhor na cumplicidade entre Eastwood e Bradley Cooper), ou das cenas curiosas mas inconsequentes com Danny Glover e Tom Waits, por exemplo. A homenagem é bonita, mas o filme, lá está, é pouco mais do que simpático. "Nós, ao Anoitecer", de Ritesh Batra (que estreou apenas na Netflix, em 2017), teria ficado como um adeus mais substancial e comovente ao percurso de Redford. 

2,5/5

Os Irmãos Sisters.jpg

"OS IRMÃOS SISTERS", de Jacques Audiard: Estranho numa terra estranha? Seria legítimo pensar nisso ao ver o realizador de "Um Profeta" ou "Ferrugem e Osso" em territórios do western entregues a um elenco de estrelas norte-americanas. E no entanto, o cineasta francês mostra-se aqui tão à vontade como em experiências anteriores, ao adaptar um romance do canadiano Patrick deWit ambientado nos EUA do século XIX mas rodado em Espanha e na Roménia. É uma história de amor entre homens aparentemente duros (como outros da obra de Audiard): amor fraternal no caso de John C. Reilly e Joaquin Phoenix, a dupla protagonista, e de contornos mais amplos entre as personagens de Jake Gyllenhaal e Riz Ahmed (que vai da admiração mútua a uma amizade em crescendo). Se a primeira metade do filme sugere a insistência num jogo do gato e do rato, com o primeiro par, que compõe um duo de assassinos a soldo, a perseguir o segundo, que descobriu um método inovador para a procura de ouro, o rumo do quarteto acaba por não ser tão previsível e vai acolhendo variações de tom enquanto a viagem também traz uma procura existencial para os protagonistas. Aliando crueza e sensibilidade, atmosfera reforçada pela fotografia sépia de Benoît Debie e pela música de Alexandre Desplat, Audiard sabe tirar partido de um elenco com uma química inatacável e oferece-lhe personagens que se afastam dos estereótipos insinuados à partida. O balanço é especialmente proveitoso para Reilly e Phoenix, que ganham por terem mais tempo de antena e ajudam a compensar alguns atalhos menos entusiasmantes ao longo da jornada. Mas mesmo assim, o melhor de "OS IRMÃOS SISTERS" chega quando passa da dupla para um quarteto fantástico.

3/5

Quem mata quem?

Modeselektor.jpg

 

É uma das duplas mais idiossincráticas da música de dança e está de volta ao fim de oito anos. Não que Gernot Bronsert e Sebastian Szary tenham estado parados nos últimos tempos, mas dedicaram-se mais mais aos Moderat, projecto que partilham com Apparat, do que aos MODESELEKTOR, através dos quais se fizeram notar na cena electrónica de Berlim (e bem mais além) em finais da década de 90.

 

"Who Else", o quarto álbum, foi editado há poucos dias e traz as primeiras canções inéditas do duo alemão desde "Monkeytown", de 2011. E embora não inclua convidados tão sonantes como os anteriores (com destaque para Thom Yorke, que participou no segundo e no terceiro), promete ser um andídoto para "o aborrecimento e abordagens formulaicas", resultado de uma mistura de "experiência, auto-confiança e a loucura habitual". 

 

O novo single, "WHO", não trai essa descrição e convoca o rapper estoniano Tommy Cash para uma dança entre hip-hop e techno com interrogações sobre dinheiro, amor ou a ideia de felicidade pelo meio. É uma amostra mais aliciante do que o primeiro tema de avanço, "Wealth", e torna-se consideravelmente mais excêntrica quando acompanhada pelas imagens do videoclip, com estilhaços de histórias de violência e bizarria - algures entre ecos de "Laranja Mecânica" ou a a obra de Matthew Barney, como alguns fãs têm apontado:

 

 

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