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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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Fundo de catálogo (112): Yeah Yeah Yeahs

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Depois de uma estreia marcante e de um segundo álbum à altura, à terceira os YEAH YEAH YEAHS também não desiludiram. Editado em Março de 2009, "IT'S BLITZ!" mantém-se um dos álbuns mais contagiantes do seu tempo.

Atirados para o caldeirão de bandas que revisitaram o garage e/ou o pós-punk em inícios do milénio, os YEAH YEAH YEAHS destacam-se hoje não só por serem dos sobreviventes dessa vaga mas por terem uma das discografias mais meritórias e consistentes.

Se em muitos casos a surpresa se esgotou ao primeiro ou ao segundo álbum, o percurso do trio nova-iorquino foi capaz de manter uma frescura e versatilidade que uns Strokes ou uns Interpol (já para não falar de inúmeras bandas da segunda ou terceira divisão) foram perdendo pelo caminho.

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"Mosquito" (2013), o quarto álbum, será o menos consensual, embora não envergonhe o que está para trás e tenha voltado a dar provas de um grupo decidido a não se repetir. Mas também era difícil manter a coesão do terceiro, um ponto de encontro revigorante entre a descarga de "Fever to Tell", de 2003 (sem nunca chegar a aproximar-se da crueza e suor dessa estreia), e a faceta contida do belo "Show Your Bones", de 2006.

O peso das guitarras, dominante nesses dois primeiros discos, cedeu espaço aos sintetizadores em "IT'S BLITZ!", numa transição que não era propriamente inesperada entre outras bandas indie da altura - dos Franz Ferdinand aos Bloc Party ou Kaiser Chiefs -, ainda que poucas a tenham feito tão bem como Karen O, Brian Chase e Nick Zinner. Os Strokes também seguiriam por esse caminho em "Angles" (2011), sem chegarem a um alinhamento especialmente memorável, e talvez só "Reflektor" (2013), dos Arcade Fire, tenha resultado tão inspirado numa viragem semelhante.

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"Zero" e "Heads Will Roll", simultaneamente os dois primeiros singles e temas de abertura do álbum, confirmam hoje o estatuto de clássicos instantâneos que insinuavam na altura. São também dois dos momentos mais vertiginosos não só do disco mas de toda a carreira dos YEAH YEAH YEAHS, o que não é dizer pouco.

Depois de ter sido comparada a Siouxsie Sioux ou à faceta mais agreste de PJ Harvey na altura da estreia, Karen O mostrou-se descendente espiritual do hedonismo de uma Debbie Harry em "Zero" (e a canção também tinha ecos das vitaminas pop dos Blondie) enquanto retomou a sua postura mais caótica em "Heads Will Roll", single demolidor e alvo de inúmeras remisturas que o tornaram numa coqueluche das pistas de dança (tanto em terreno hipster como EDM e mais além).

Esses cartões de visita foram tão impactantes que às vezes parecem ofuscar tudo o resto que "IT'S BLITZ!" tem para oferecer. E é muito, mesmo que concentrado em apenas dez temas (vale a pena procurar as faixas-bónus de algumas edições, "Faces" e "Clap Song", que aprofundam a faceta espirituosa do disco).

O álbum nunca volta a ser tão efusivo como no arranque, mas isso está longe de ser um problema quando oferece canções do calibre de "Skeletons" e "Runaway", óptimos desenvolvimentos da vertente intimista de "Show Your Bones", enquanto que "Dull Life" ou "Shame and Fortune" asseguram a descendência do nervo punk. Entre esses extremos, "Soft Shock" e "Hysteric" apresentam uns YEAH YEAH YEAHS tão encantatórios como enérgicos - e maduros no melhor sentido do termo, sem se refugiarem na sua zona de conforto. Grande forma de encerrar uma das melhores trilogias do rock dos anos 00...

Um sonho sempre (synth) pop

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O cinema experimental de Kenneth Anger, a herança pop de Françoise Hardy, figuras da mitologia grega ou a new wave via Tina Weymouth (baixista dos Talking Heads e mentora dos Tom Tom Club). Estes elementos, à partida com pouco em comum, estão entre as principais pistas para o quinto álbum dos XENO & OAKLANDER, editado esta sexta-feira.

Sucessor de "Topiary", de 2016, "Hypnos" é o resultado de mais um mergulho de Liz Wendelbo e Sean McBride (AKA Martial Canterel) pela synth-pop e coldwave, que se tem mostrado entusiasmante desde 2004. Desta vez, a dupla radicada em Brooklyn diz ter apostado em canções mais ancoradas na melodia e na voz, mantendo o inglês e o francês como idiomas.

A transição entre o sono e a vigília também está entre os elementos-chave do alinhamento, com a atmosfera a tornar-se mais surreal e onírica do que em discos anteriores - ou pelo menos foi esse o ponto de partida. "INSOMNIA", o novo single, segue essa linha logo desde o título enquanto o videoclip, realizado pela vocalista, acentua o tom abstracto. Mas a música continua a ser o mais interessante: