ELZA SOARES continua imparável. Além de uma presença nos palcos regular e impressionante nos últimos anos, a octagenária deixa um novo atestado de vitalidade artística no álbum mais recente, "Planeta Fome", editado há poucos dias.
O sucessor de "Deus É Mulher" (2018) volta a vincar que a linguagem do revitalizante "A Mulher do Fim do Mundo" (2015) não está esgotada, num alinhamento que sabe tirar o melhor da modernidade e da tradição, às quais a veterana brasileira ajuda a conferir personalidade. Entre os bons exemplos desse cruzamento está o novo single, "COMPORTAMENTO GERAL", versão do clássico de Gonzaguinha, de inícios dos anos 70, que dirá tanto ou mais ao Brasil de hoje.
A voz lânguida mas imponente da cantora carioca molda-se facilmente ao misto de ironia e intervenção da letra ("Você deve rezar pelo bem do patrão/ E esquecer que está desempregado/ Você deve aprender a baixar a cabeça/ E dizer sempre: muito obrigado") e a moldura sonora, com produção de Rafael Ramos, ganha um tom mais sumptuoso e tropical do que o original, e com qualquer coisa de cinematográfico.
As orquestrações chegam a lembrar a herança das bandas sonoras de 007, o videoclip estará mais próximo do universo pós-apocalíptico de Mad Max - sobretudo do terceiro filme da saga e da presença de Tina Turner em particular.
"When I go blind, will you keep in mind I had fun, I got it on?", pergunta MARIKA HACKMAN no final de "HAND SOLO", o seu novo single, apresentado como um hino à masturbação feminina.
"Para muitas mulheres, ainda é vista como algo vergonhoso e embaraçoso", salienta a britânica, e por isso decidiu não só abordar o tema no seu álbum mais recente - "Any Human Friend", editado este Verão - como ir mais longe e oferecer-lhe uma abordagem visual a cargo de Sam Bailey.
Partindo de alimentos e de objectos do dia-a-dia, o videoclip vai ganhando um âmbito mais global, ou até mesmo universal, sem dispensar a presença de uma mão irrequieta, cujos movimentos podem tornar o resultado pouco aconselhável a ser desfrutado no open space do local de trabalho - ou não, dependendo da capacidade de encaixe dos colegas e das chefias face a imagens sugestivas mas nunca sexualmente explícitas.
Uma provocação bem humorada para (continuar a) ajudar a combater um estigma, que leva mais longe um atrevimento que já passava pela letra ("I gave it all, but under patriarchal law I'm gonna die a virgin") embora não seja tão notório na música, assente num encontro de indie rock e new wave em modo melancólico. E também é um bom motivo para voltar a um disco que, ao contrário do que davam a entender os primeiros singles ("I'm Not Where You Are" e "The One"), acaba por não ser muito imediato. Mas sabe ir recompensando audições repetidas - e, neste caso, com imagens à altura: