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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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2020: Odisseia no espaço feminino

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Um álbum com 15 faixas e mais de uma hora de duração pode ser um desafio na era do modo shuffle via streaming, mas o mais recente de SEVDALIZA recompensa a insistência. Editado de forma demasiado discreta no final do Verão, "Shabrang" não precisa de conquistar pelo imediatismo para ir deixando vontade de ouvir mais - basta a aura de mistério que a irani-holandesa vai moldando ao longo de um alinhamento que não fica a dever nada e talvez até supere os do álbum de estreia, "ISON" (2017), e dos três EPs desta discografia.

Entre influências da tradição árabe e aproximações ao R&B e à música de dança, os cruzamentos sonoros são tão versáteis como a voz, embora nunca abdiquem do tom nocturno e muitas vezes dolente. Mas também há rasgos no meio da introspecção dominante: vale a pena ouvir o o álbum até ao fim para descobrir, por exemplo, o fulgor de "RHODE", o novo single.

Com um registo vocal a lembrar uma Lou Rhodes dos primeiros tempos dos Lamb, Sevda Alizadeh reforça a descendência da faceta mais negra do trip-hop numa moldura sonora que remete para a 'bíblia' "Mezzanine", dos Massive Attack. O resultado é dos maiores momentos de crispação de "Shabrang" e tem frenesim à medida num videoclip descrito pela cantautora como uma celebração crua da feminilidade - e nos moldes de ficção científica, do arranque espacial a um rodeo afiado: