Do bungalow para o quarto, de ataques de pânico a crises de fé
A KINO - MOSTRA DE CINEMA DE EXPRESSÃO ALEMÃ regressa esta semana ao Cinema São Jorge e ao Goethe-Institut, em Lisboa, para a 17.ª edição. Como já é habitual, em destaque está a selecção do cinema recente dos países de língua alemã (Alemanha, Áustria, Suíça e Luxemburgo). E vale a pena conhecê-la, entre 29 de Janeiro e 5 de Fevereiro.
Há mais de dez anos, Ulrich Köhler foi uma das promessas do novo cinema alemão que chegaram a Portugal através da KINO, com "Bungalow" (2002), o seu primeiro (e aconselhável) filme. Em 2020, o cineasta já reforçou o lugar entre os nomes da Escola de Berlim - tendência de uma geração na qual se incluem Christian Petzold ("Fantasmas", "Em Trânsito") ou Maren Ade ("Toni Erdmann") - e é o homenageado da secção Foco.
Nos próximos dias, o Cinema São Jorge vai acolher as suas cinco longas-metragens, entre elas "In My Room: No Meu Quarto" (2018), o seu único filme que chegou ao circuito comercial português, e "Um Ano de Voluntariado" (2019), o mais recente, em estreia nacional. Köhler também é um dos convidados deste ano e vai estar presente em todas as sessões das suas obras.
Outros motivos para passar pela KINO são os filmes de abertura e de encerramento, ambos centrados em mulheres com uma ligação forte à música e cujas rotinas se encaminham para um beco sem saída. "Lara", de Jan-Ole Gerster, e "A Audição", de Ina Weisse, despertam logo curiosidade pelas actrizes principais, duas das mais confiáveis do cinema alemão recente: Corinna Harfouch, no primeiro, e Nina Hoss, no segundo. A espreitar no São Jorge a 29 de Janeiro e 5 de Fevereiro, às 21h30 e 21h00, respectivamente.
Para ir continuando a desbravar a programação, ficam ainda três sugestões de percurso que sobressaem à primeira vista, todas entre as sessões da próxima semana:
Segunda, 3 de Fevereiro, às 21h00: "SYSTEM CRASHER", de Nora Fingscheit - Uma das obras-sensação do cinema germânico recente, foi a candidata alemã ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano e acabou por não ser seleccionada, mas não lhe faltam outras distinções internacionais (incluindo dois prémios no Festival de Berlim). Segunda longa-metragem de uma realizadora já com várias curtas e alguns documentários no currículo, propõe um retrato cru de uma menina com ataques de raiva recorrentes e um quotidiano entre famílias de acolhimento e clínicas psiquiátricas, decidida a regressar a casa da mãe (que não se sente capaz de cuidar dela). Promete ser das experiências mais desconcertantes e polarizadoras desta edição.
Terça, 4 de Fevereiro, às 21h00: "O CHÃO DEBAIXO DOS PÉS", de Marie Kreutzer - Tal como "System Crahser", o novo filme de um dos nomes em ascensão do cinema austríaco chega depois de ter somado elogios no Festival de Berlim (foi nomeado para o Urso de Ouro e Teddy), entre outros aplausos fora de portas. E à semelhança das obras de abertura e encerramento da KINO deste ano, aposta num olhar sobre uma mulher que começa a perder as rédeas da sua vida, aparentemente bem sucedida. Mas a carreira de consultora de gestão da protagonista começa a ser ameaçada quando a sua irmã sofre um ataque esquizofrénico particularmente grave, deixando-a numa encruzilhada pessoal e profissional. Valerie Pachner, que está no centro deste drama descrito como intenso e cortante, pode ficar entre os rostos a descobrir este ano.
Quarta, 5 de Fevereiro, às 18h30: "ORAY", de Mehmet Akif Büyükatalay - Estreia nas longas-metragens de um realizador alemão de ascendência turca, volta a mergulhar na comunidade islâmica depois de as curtas já a terem acompanhado. Desta vez, segue a jornada de um homem que se separa da mulher depois de uma discussão, iniciando uma nova fase da vida ao lado de uma comunidade religiosa muçulmana em Colónia. Aos poucos, começa a questionar a dedicação ao amor conjugal e a entregar-se de forma mais profunda à fé, mas a transição não é especialmente pacífica. Do dilema resulta um drama com traços documentais e outro dos filmes da KINO bem recebido na mais recente edição do Festival de Berlim, de onde saiu com o Prémio de Melhor Primeira Obra.