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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

O mentiroso compulsivo da Marvel está de volta

De supervilão a anti-herói, o Deus da Mentira muda de estatuto e aventura-se em nome próprio na nova minissérie da Marvel no Disney+. O primeiro dos seis episódios de "LOKI" vale-se do carisma de Tom Hiddleston e abre mais portas da Casa das Ideias, embora também insista no recapitular da matéria.

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Antagonista de Thor e dos Vingadores (apesar de algumas alianças pontuais), Loki ganha finalmente o estatuto de personagem principal, papel que a entrega de Tom Hiddleston já merecia, mesmo que nem sempre tenha sido valorizada pelo argumento de alguns filmes que antecederam a nova minissérie da Marvel.

Mas esses filmes são importantes, alguns até decisivos, para quem aceder ao convite destes seis episódios. Se "WandaVision" e "O Falcão e o Soldado do Inverno", as apostas anteriores no Disney+, já dependiam muito da cronologia do Universo Cinematográfico Marvel, "LOKI" parte directamente de uma cena de "Vingadores: Endgame" (2019), o que a torna numa minissérie particularmente imprópria para iniciados nestas andanças.

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A nova aventura do asgardiano também vem comprovar que a morte vale muito pouco por aqui, o que aliás já era uma limitação da BD de origem. Loki pode ter sido assassinado por Thanos na sua última aparição, sequência que partiu o coração de muitos fãs, mas isso não é nada que não se resolva com a criação de uma nova linha temporal. Quem aceitar conveniências de argumento como essas, talvez possa divertir-se com um primeiro episódio no qual o protagonista é obrigado a responder à Autoridade das Variações Temporais (AVT) num cenário onde os seus truques de ilusão habituais de pouco ou nada lhe valem.

Isolado do núcleo de Asgard e também de outros mundos já conhecidos do Universo Cinematográfico Marvel, Loki tem aqui direito a um recomeço que talvez seja o que de mais interessante lhe aconteceu em muitos anos. Afinal, a alternância de alianças mantida até aqui já se tinha tornado arbitrária, com a personagem a ser pouco mais do que uma muleta narrativa - e com quase toda a sua graça esvaziada entre o primeiro filme de Thor e a missão inicial dos Vingadores.

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Na minissérie, o Deus da Mentira vê-se obrigado a confrontar-se consigo próprio (em mais de um sentido) e o primeiro episódio é sobretudo funcional ao apresentar as regras de um jogo do gato e do rato com contornos distintos dos desafios anteriores. O showrunner Michael Waldron, um dos argumentistas de "Rick and Morty", injecta aqui algum humor absurdo e surreal, à medida da personagem, e embora não consiga fugir à overdose de diálogos explicativos, tanto com recapitulações da matéria dada como com o modus operandi das variações cronológicas (aceitáveis num capítulo introdutório), pelo menos apresenta-os com alguma imaginação, caso de um delicioso vídeo de animação didáctico a lembrar a escola Hanna-Barbera.

O tom vintage mantém-se na direcção artística de Kasra Farahani captada pela câmara de Kate Herron ("Sex Education"), com o centro de operações da Autoridade das Variações Temporais a ter inspiração visual de alguma ficção científica dos anos 60 ou 70. Já a participação de Owen Wilson, astuto e eloquente na pele de agente interrogador de Loki, sugere que esta história também vai aceitar uma lógica de buddy movie, à semelhança de "O Falcão e o Soldado do Inverno". Mas espera-se que, ao contrário dessa, não abra a porta a tantas possibilidades que se esqueça da personagem que tem no centro...

O primeiro episódio de "LOKI" está disponível no Disney+ desde 9 de Junho. A plataforma de streaming estreia novos episódios todas as quartas-feiras.

Uma tesourada aos anos 80 (com algum zapping pela MTV)

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Poucas semanas depois de ter revelado uma canção nova, "All I Want", ao lado de Boys Noize, JAKE SHEARS celebra o Mês do Orgulho LGBTQIA+ com a edição de mais um inédito. Tema que já vem dos dias que antecederam o lançamento de "Night Work" (2010), o terceiro álbum dos Scissor Sisters, "DO THE TELEVISION" não teria destoado no registo mais sintético da banda - e dos mais inspirados por alguma pop dos anos 80.

Produzida por Vaughn Oliver, a canção tem influência assumida de David Bowie e Lionel Richie, move-se entre heranças disco e funk e assenta num encontro de baixo gordo, cowbell, teclados e sintetizadores que também lembra a escola electrónica de Gary Numan.

SHEARS diz que esta combinação é representativa da música que tem criado ultimamente e o Bowie da década de 80 até já tinha sido mencionado a propósito de "Meltdown", outro single da colheita recente do norte-americano que deixa boas pistas para um sucessor do álbum de estreia a solo homónimo, de 2018. O videoclip leva mais longe o tom nostálgico, ao cruzar uma versão retrofuturista do cantor com imagens de arquivo dos tempos iniciais da MTV: