Linha fantasma
Se nos primeiros álbuns, os efusivos "Box of Secrets" (2008) e "Fire Like This" (2010), os BLOOD RED SHOES tinham nas guitarras a sua maior força, a fase mais recente da dupla de Brighton foi abrindo espaço para os sintetizadores. O flirt era especialmente audível em "Get Tragic" (2019) e adensa-se no novo longa-duração, "Ghosts on Tape", já o sexto de Laura-Mary Carter e Steven Ansell - e uma das edições iniciais de 2022 a pedir audições repetidas.
Com uma aura gótica inspirada por figuras marginais e podcasts de investigação criminal, é um registo pelo menos tão coeso como os que tornaram o duo numa das revelações do rock britânico, há cerca de quinze anos, mesmo que agora a pop electrónica mais turva esteja a ganhar terreno.
"I Am Not You", com Ansell a disparar raiva industrial, podia ser uma canção dos Nine Inch Nails (de colheita vintage) e os temas interpretados por Carter não destoariam ao lado de muitos dos Garbage ou da faceta mais sintética de uns The Kills. Mas o alinhamento soa mais vibrante do que derivativo e deixa curiosidade quanto ao salto do disco para o palco, território no qual a dupla soma ainda mais pontos (embora Portugal já a tenha acolhido várias vezes, não faz parte das datas já confirmadas da digressão europeia, no Verão).
Enquanto não se apresentam ao vivo, Ansell e Carter têm participado nos novos videoclips, que contam uma história de terror psicológico em quatro capítulos, realizados por Craig Murray e com influências que vão de "Mulholland Drive", de David Lynch, a "De Olhos Bem Fechados", de Stanley Kubrick. O mote foi dado pelas imagens que acompanham "Comply", tema de abertura do disco (outro da escola Trent Reznor), e continua em "SUCKER", o single mais recente e dos melhores momentos do álbum. Um capítulo muito "Só os Amantes Sobrevivem", de Jim Jarmush, descreve a banda: