Entre filhas perdidas e vingativas, passado e futuro, vigilantes e gigantes
Até dia 10 de Abril, há mais de 50 filmes em cartaz em Lisboa na 15.ª edição da FESTA DO CINEMA ITALIANO, que arranca esta sexta-feira no Cinema São Jorge. Para ajudar a escolher, ficam por aqui cinco sugestões iniciais.

Com sessões no Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa e UCI Cinemas - El Corte Inglés, a viagem a clássicos e novidades do cinema italiano inicia-se com "Ennio", documentário sobre Ennio Morricone assinado por Giuseppe Tornatore ("Cinema Paraíso") e com a participação de gente como Quentin Tarantino, Dario Argento e Bruce Springsteen..
A abertura está marcada para as 21h00 desta sexta-feira, 1 de Abril, no Cinema São Jorge, e a passagem do evento pela capital termina no dia 10, na mesma sala e à mesma hora, com "Il bambino nascosto", de Roberto Andò (o realizador de "Viva a Liberdade" e "Políticos Não se Confessam"). Pelo meio, além das largas dezenas de outros filmes, Salvador Sobral vai revisitar música pop italiana e não faltam os habituais cine-jantares nem a Festa Italo Disco.
Depois de Lisboa, a FESTA DO CINEMA ITALIANO alarga-se a mais de dez cidades numa edição que assinala os 100 anos do nascimento de Pier Paolo Pasolini, com direito a retrospectiva do cineasta e de obras que traduzam o seu legado. Como sempre, também há primeiras e segundas obras em competição e antestreias (mais sobre o programa aqui). E para ir iniciando o percurso, fica a sugestão de cinco filmes da lista de novidades a espreitar em salas lisboetas nos próximos dias (a maioria também pode ser vista mais para a frente, noutras cidades), por ordem de exibição:

"L'ARMINUTA", de Giuseppe Bonito: O realizador de "Manual de Sobrevivência para Pais" (2020), comédia que conquistou alguns elogios, vira-se para o drama numa adaptação do best-seller homónino de Donatella Di Pietrantonio. E troca os tormentos da infância e da paternidade por um relato coming of age a partir do quotidiano de uma adolescente devolvida à sua família biológica, da qual nem tinha conhecimento, na Itália rural dos anos 70. As primeiras reacções apontaram um olhar sensível e contido, a sugerir que pode estar aqui um nome a acompanhar.
Sábado, 2 de Abril, às 16h30, e segunda, 4 de Abril, às 19h00, nos UCI CInemas - El Corte Inglés

"FUTURA, OU O QUE ESTÁ POR VIR", de Pietro Marcello, Francesco Munzi, Alice Rohrwacher: Um dos documentários (e antestreias) que despertam mais curiosidade nesta edição junta três realizadores a ter em conta no cinema italiano recente. Marcello, embora mais conhecido pelo drama "Martin Eden" (2019), já mantinha um longo pecurso documental, mas Munzi ("Saimir", 2004) e Rohrwacher ("O País das Maravilhas", 2014) tiveram experiências mais pontuais nesse registo. Neste filme feito a seis mãos, olham para a Itália de hoje a partir das vivências e depoimentos de vários adolescentes, numa conversa de múltiplas vozes e origens que vai da estabilidade financeira (ou falta dela) às tensões políticas e desafios tecnológicos ou climáticos. Em Cannes, o resultado foi nomeado para o Golden Eye, o prémio de Melhor Documentário.
Sábado, 2 de Abril, às 18h00, no Cinema São Jorge

"UNA FEMMINA", de Francesco Costabile: Primeira longa-metragem de um realizador que já conta com curtas e documentários no currículo, esta combinação de drama e thriller propõe um mergulho nos bastidores da Ndrangheta, associação mafiosa formada na região da Calábria. A perspectiva é a de uma adolescente que cresceu nesses ambientes, numa zona montanhosa, e quer vingar-se da família depois de um evento trágico. Baseada em "Fimmine ribelli", livro de investigação que junta relatos de várias mulheres marcadas pela máfia, foi uma estreia aplaudida no Festival de Berlim (de onde saiu com duas nomeações este ano), sobretudo pelo desempenho da jovem Lina Siciliano, no seu primeiro papel, e pelo misto de energia e claustrofobia visual.
Domingo, 3 de Abril, às 18h00, e terça, 5 de Abril, às 21h30, no Cinema São Jorge

"ARIAFERMA", de Leonardo Di Costanzo: "L'intervallo" (2012) e "L'intrusa" (2017) foram duas muito estimáveis experiências na ficção de um realizador veterano do cinema documental, mas infelizmente sem grande espaço nas salas nacionais (apesar de já ter sido destacado na Cinemateca e de a Festa do Cinema Italiano também já lhe ter dado atenção). No seu filme mais recente, o napolitano mantém-se próximo do realismo, agora em ambientes prisionais, para um retrato de tensões entre guardas e reclusos nas vésperas da desactivação de uma penitenciária. Se o nome de Di Costanzo não chegar para despertar curiosidade, este thriller parece valer desde logo pela dupla protagonista, os grandes Toni Servillo e Silvio Orlando, na pele de um vigia e de um presidiário, respectivamente.
Terça, 5 de Abril, às 21h00, no Cinema São Jorge

"I GIGANTI", de Bonifacio Angius: O lado mais sombrio da masculinidade, que já tinha dado o mote ao celebrado "Perfidia" (2014) e a "Ovunque proteggimi" (2018), volta a dominar o universo de um dos nomes em ascensão no cinema independente italiano. Entre o drama e a comédia negra, o foco é um jantar de amigos que marca o derradeiro encontro do grupo e abre a porta a memórias, celebrações e ressentimentos. Além da realização, Angius assumiu o argumento, a direcção de fotografia, a montagem e a produção - um esforço reconhecido no Festival de Locarno, que nomeou o filme para o Leopardo de Ouro no ano passado.
Sexta, 8 de Abril, às 19h00, no Cinema São Jorge. A sessão contará com a presença do realziador e do actor Stefanu Deffenu