Se há poucas semanas Tove Lo espantava os seus males amorosos na pista de dança (com "No One Dies From Love"), EMPRESS OF também partiu do final de um relacionamento para iniciar a escrita de novas canções às quais não falta apelo físico. O resultado desse processo é o EP "Save Me", agendado para 24 de Junho, que sugere trazer novidades sonoras ao universo de Lorely Rodriguez.
A faixa-título do sucessor do álbum "I'm Your Empress Of" (2020) inclui a primeira experiência da norte-americana com arranjos de cordas, decisivos para o travo disco de uma pop electrónica que tem na percussão infecciosa outro dos seus motores. A cantautora e produtora apresenta-a nas suas plataformas de comunicação como um dos seus temas favoritos, guiado por jogos de poder e urgência sexual, e será difícil não concordar que está entre os seus singles mais certeiros.
Igualmente coproduzido com BJ Burton (Taylor Swift, Bon Iver), "DANCE FOR YOU" é o avanço mais recente e faz uma aproximação à house enquanto marca um virar de página amoroso. Confiante e eufórico, não destoaria ao lado de alguns relatos dançáveis de Robyn e deixa mais uma pista convidativa para um dos discos que podem tornar-se banda sonora dos próximos meses. Siga a dança, então...
Quase dez anos depois da edição do álbum de estreia ("Drone Logic", de 2013), DANIEL AVERY promete para este Outono o seu disco mais ambicioso e conseguido. E também, ou sobretudo, o mais negro, pesado e denso.
Apontado para 4 de Novembro, "Ultra Truth" nasceu não de uma tentativa de escapismo (que tinha sido o caso dos quatro antecessores e da colaboração com Alessandro Cortini), mas de um mergulho na escuridão, descreve o produtor e DJ nas redes sociais, acrescentando que o alinhamento traz um mundo sonoro inteiramente novo. Álbuns dos Deftones, Portishead, Nick Cave ou Mogwai, entre outros que marcaram a sua adolescência, filmes de David Lynch e a música das raves estão entre as inspirações avançadas, às quais se juntam a experiência da vida em digressão na última década.
"Lone Swordsman", tema no qual homenageou Andrew Weatherall após a morte do emblemático músico, produtor e DJ, em 2020, foi repescado para o disco, embora a sua vertente contemplativa talvez não seja a mais esclarecedora sobre o que aí vem. E isso talvez explique que o primeiro single seja "CHAOS ENERGY", canção que faz jus ao nome ao aliar um crescendo intenso de techno e breakbeat, ainda que curiosamente remeta mais para os anos 90 de uns Orbital ou Underworld (nomes cujo legado é evidente na música do britânico desde "Drone Logic") do que para qualquer um dos artistas que salientou como influência desta fase.
Mas há mais gente a moldar "Ultra Truth", e de forma mais directa. Ghost Culture, Marie Davidson, Manni Dee, Jonnine Standish (HTRK), AK Paul, Sherelle e James Massiah estão na lista de colaboradores, juntamente com Kelly Lee Owens e HAAi, estas as duas vozes convidadas para a amostra inicial. Outra presença feminina é Claudia Rafael, que realizou o videoclip, uma experiência futurista com tecnologia de Inteligência Artificial e efeitos de luzes não recomendáveis aos mais sensíveis:
Segunda adaptação de um romance de Sally Rooney depois da surpresa "Normal People", "CONVERSATIONS WITH FRIENDS" mantém a equipa criativa e a temática amorosa. Mas os dois primeiros episódios, disponíveis na HBO Max, ficam aquém do arranque da antecessora tanto na espontaneidade como no magnetismo.
A comparação pode ser injusta, embora seja difícil não pensar em "NORMAL PEOPLE", uma das melhores memórias televisivas de 2020, ao começar a ver a mais recente série baseada numa obra de Sally Rooney. "CONVERSATIONS WITH FRIENDS" leva para o pequeno ecrã o primeiro romance da escritora irlandesa ("Normal People" é o segundo), que a revelou enquanto voz sensível e expressiva sobre a iniciação amorosa e sexual dos millennials (ou de uma parte significativa deles).
Se a série anterior se focava num casal de adolescentes irlandeses, acompanhando a sua entrada na idade adulta, agora as atenções dirigem-se para duas amigas, estudantes universitárias em Dublin e criadoras de espectáculos de spoken word de costela feminista, que se tornam íntimas de um casal na casa dos trinta, composto por uma escritora reputada e um actor em ascensão.
Não demora muito a formar-se um quarteto amoroso, com os dois primeiros (de doze) episódios a concentrarem-se na atracção entre Frances, a mais tímida e inexperiente das duas amigas, e Nick, que partilha a postura circunspecta, num contraste com a sua mulher, Melissa, e Bobbi, a outra estudante (irlandesa e caucasiana no livro, afro-americana na série), ambas com uma postura mais confiante e irreverente.
O realizador Lenny Abrahamson, que em "Normal People" deu um passo de gigante depois de filmes esquecíveis como "Frank" (2014) ou "Quarto" (2015), volta a dirigir grande parte dos episódios, ao lado de Leanne Welham ("Mundos Paralelos"), enquanto Alice Birch ("Succession") também transita como argumentista. E tal como a antecessora, a série é uma aposta da BBC Three e da Hulu. Só que apesar de também ser um drama meditativo e naturalista, com relacionamentos igualmente dominados por narcisismo, melancolia e secretismo, "CONVERSATIONS WITH FRIENDS" não deixa uma primeira impressão tão convincente - e no seu melhor revela-se morna em vez de intensa e apaixonante.
Se a câmara de Abrahamson volta a acertar no efeito realista, essa segurança não é tão bem desenhada pela escrita nem pelo elenco. O arranque propõe um mergulho em ambientes académicos, intelectuais e artísticos com um sabor excessivo a déjà vu e personagens com dificuldade em se afastarem de estereótipos.
Alguns diálogos também não ajudam, com mais pretensão do que inspiração, e às vezes são mesmo frustrantemente rasos. Já a aproximação entre as duas duplas parece mais imposição do argumento do que um desenvolvimento orgânico, sobretudo nas cenas entre Frances e Nick, a milhas da espontaneidade de Connell e Marianne em "Normal People", até porque a estreante Alison Oliver e Joe Alwyn ficam muito longe da química e magnetismo de Paul Mescal e Daisy Edgar-Jones. Jemima Kirke, na pele de Melissa, é praticamente uma variação mais velha de Jessa, a sua personagem durante anos em "Girls", e Sasha Lane cumpre numa Bobbi desbocada, mas espera-se que possa mostrar mais.
A comparação pode ser injusta, lá está, mas o facto de "CONVERSATIONS WITH FRIENDS" adaptar a mesma autora e retomar a equipa criativa de "Normal People" é o principal motivo para, ainda assim, lhe dar o benefício da dúvida. Não fosse esse o caso e talvez a conversa acabasse já aqui, tendo em conta que não falta nova concorrência no streaming todas as semanas...
"CONVERSATIONS WITH FRIENDS" estreou-se na HBO Max a 15 de Maio. A plataforma de streaming disponibiliza novos capítulos todos os domingos.