Quando as influências não pecam por excesso
Quem juntasse o baixo dos New Order, os sintetizadores de Gary Numan e o minimalismo dos Suicide talvez não andasse muito longe da música das AUTOMATIC. O nome da banda californiana, contudo, partiu da canção homónima das The GoGo's, cujo sentimento de solidão numa grande metrópole, com sugestões sci-fi, também percorreu o álbum de estreia do trio - "Signal", editado em 2019.
Uma versão recomendável do clássico "Mind Your Own Business", das Delta 5, ajudou a situar o grupo entre os descendentes da new wave (com desvios ocasionais para o krautrock), ainda que explore essa herança num regime de baixa voltagem quando comparado à nova geração pós-punk do outro lado do Atlântico (caso dos Idles, para quem já abriu concertos, Fontaines D.C. ou Porridge Radio). E o facto de Lola Dompé, a baterista, ser filha de Kevin Haskins, dos Bauhaus e Love and Rockets, é bem capaz de ter ajudado a reforçar essa escola.
O gosto por canções curtas, precisas, hipnóticas e entoadas a três vozes (em modo lacónico) revelado no primeiro disco parece manter-se no sucessor, mesmo que o título sugira o contrário. "Excess", que chega já esta sexta-feira, 24 de Junho, inspira-se na transição da cultura underground dos anos 70 para o mainstream dos anos 80, com o braço de ferro entre o desafio da transgressão e o triunfo do consumismo a fazer-se notar já em parte das letras e videoclips dos primeiros singles.
Entre ambientes retrofuturistas ou a paz armada de um quotidiano no escritório, as imagens de "NEW BEGINNING", "VENUS HOUR" e "SKYSCRAPER" sublinham o humor seco que também passa por uma música capaz de dosear referências sem ficar refém delas. Pode estar aqui uma das surpresas deste Verão, mesmo que não seja necessariamente um disco de praia: