Embora a música das TROÁ costume guiar-se por uma combinação de blues, jazz, funk ou MPB, o novo single da dupla brasileira junta condimentos electrónicos e ganha um ritmo mais acelerado e infeccioso do que o habitual. A culpa, ou boa parte dela, pode muito bem ser de LETRUX, convidada a abrilhantar "CÊ SABE QUE TEM ALGUÉM" com um frenesim que não destoa ao lado dos momentos mais dançáveis de discos como "Letrux em Noite de Climão" (2017) ou "Letrux aos Prantos" (2020).
Inspirada pelo frenesim e convite ao hedonismo do Rio de Janeiro - tanto Carolina Mathias e Manuella Terra como Letícia Novaes são cariocas -, a canção alterna entre uma atmosfera lânguida e acessos trepidantes como o que emoldura um refrão imediatamente trauteável. E pouco mais de três minutos chegam para uma viagem entre o trip-hop, a synth-pop, o rock e sobretudo o disco cantada a três vozes e em três idiomas - português, inglês e castelhano.
Produzida por Mathias e Pedro Sodré e ancorada nos sintetizadores e percussão, é uma pequena delícia de sabor veraneante que chega fora da época mas não perde o apelo por isso. "Estamos perdidos y estamos bailando", entoam as autoras, mas parecem saber muito bem o que estão a fazer - incluindo no videoclip, dirigido por Zeca Viera e Carolina Mathias, que ilustra a celebração em modo retro e noctívago:
Quase 30 anos depois de "Leftism" (1995), álbum que marcou a música de dança do seu tempo como poucos, osLEFTFIELD estão prestes a editar aquele que será apenas o seu quarto disco de originais. "This Is What We Do" vai chegar ainda em 2022, a 2 de Dezembro, e sucede ao interessante mas discreto "Alternative Light Source" (2015) - neste percurso, de resto, nenhum capítulo esteve perto de fazer sombra ao primeiro.
Conjunto de canções geradas na ressaca da pandemia, é também dos casos em que a sonoridade acaba por traduzir os efeitos do confinamento: seja o do trauma ou de um novo olhar sobre o amor, diversidade ou cura. E também traz ecos da vida pessoal de Neil Barnes, a metade da dupla britânica que faz parte do projecto desde o início (a outra é Adam Wren, que substituiu o cofundador Paul Daley em 2010). A ameaça de um cancro, o processo de divórcio e uma fase de depressão tiveram ressonância, avança a banda, num disco igualmente marcado pelo luto - em especial o de Andrew Weatherall, figura de proa da electrónica britânica dos anos 90 a quem o disco é dedicado.
Como todos os antecessores, "This Is What We Do" não dispensa colaborações. Earl Sixteen, vindo do reggae, volta a juntar-se aos londrinos depois de ter dado voz a um dos clássicos absolutos de "Leftism", "Release the Pressure". A ele juntam-se a escritora e poetisa Lemn Sissay e Grian Chatten, vocalista dos Fontaines D.C., autores de um dos melhores álbuns de guitarras do ano. Mas em "FULL WAY ROUND" o irlandês troca o rock e o pós-punk por ritmos que partem do breakbeat e que acomodam o seu spoken word imediatamente reconhecível.
Exemplo de tensão pós-milénio, o tema é o novo (e o mais aliciante) single de avanço do disco - depois de "Pulse" e "Accumulator", instrumentais propulsivos e eficazes -, deixando uma crónica do caos urbano que, mais do que os próprios LEFTFIELD, lembra alguns dos conterrâneos e colegas de geração do duo (dos Prodigy aos Underworld ou aos mais esquecidos Lo Fidelity Allstars). O videoclip propõe uma versão editada, mas também vale a pena ouvir a original.