Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Danças com lobos

yeah-yeah-yeahs.jpg

Neste caso, audições repetidas não contrariam a primeira: "Cool It Down" é o álbum menos essencial dos YEAH YEAH YEAHS, mesmo que ainda seja um regresso a louvar. Só que nove (!) anos depois do sortido arriscado de "Mosquito", era legítimo esperar um pouco mais de uma banda que revelou um sentido de urgência impressionante no longa-duração de estreia, "Fever to Tell" (2003), e que continuou a manter-se entre as mais memoráveis de inícios do milénio com os muito coesos "Show Your Bones" (2006) e sobretudo "It's Blitz!" (2009).

O quinto disco dos nova-iorquinos não só foi o que demorou mais a chegar como acaba por ter o alinhamento mais curto (apenas oito temas, um deles aquém dos dois minutos de duração). E traz menos pontos altos do que qualquer dos antecessores, embora tenha alguns.

"WOLF" , o novo single (sucessor de "Spitting Off the Edge of the World" e "Burning") está entre os que mostram o trio na sua melhor forma (e na mais enérgica), num portento de pop electrónica cuja letra alude a um dos maiores clássicos dos Duran Duran (a sonoridade também deve muito aos anos 80 mais sintéticos).

O videoclip, realizado por Allie Avital, sublinha a atmosfera aguerrida, com Britt Lower (que está em alta este ano na série "Severance") a explorar o seu lado mais primitivo e selvagem - apesar de não chegar a intimidar Karen O:

Um regresso a pedir uma bola de espelhos

Mirror People.jpg

Numa altura em que "Voyager" (2015), o primeiro álbum de MIRROR PEOPLE, já é uma memória distante, Rui Maia (parte dos X-Wife e também com edições em nome próprio) retomou o seu projecto mais virado para a electrónica dançável.

"HEARTBEATS ETC.", o segundo longa-duração, continua a sugerir pontes entre disco e funk, breakbeat ou house, quase sempre sem prescindir de uma sensibilidade pop expressa no formato canção, o mais habitual nos oito novos temas (embora nem todos sejam tão novos quanto isso, uma vez que alguns já tinham sido revelados nos últimos anos, até porque o álbum ganhou forma entre 2018 e 2022).

Com colaborações de Rö (nome artístico de Maria do Rosário), Da Chick e do duo italiano de italo disco Hard Ton, o alinhamento nasceu entre viagens de comboio, concertos e quartos de hotel e reforça os sintetizadores e drum machines face às guitarras.

Se no álbum a receita funciona, ao vivo a força destas canções torna-se substancialmente mais vincada, como o confirmará quem viu Maia e Rö ao vivo no Musicbox Lisboa, a 20 de Outubro, no primeiro concerto da mini-digressão nacional (que entretanto já passou pelo Porto, Vila Nova de Famalicão e despede-se a 18 de Novembro no Stereogun, em Leiria). Através de uma sucessão de temas sem paragens, o ritmo não abrandou e o desenho de luz, conjugado com os movimentos de dança imparáveis da vocalista, serviram efeitos especiais mais do que suficientes para que o espectáculo, embora minimalista, não deixasse de envolver.

"GUD TIMES", canção que já sobressaía no álbum ao piscar o olho às origens do electro, foi um dos momentos altos em palco e merecidamente escolhida para novo single - depois de "Reckless" e "No Other Truth". O videoclip encoraja, mais uma vez, a entrega à dança, e nem é essencial haver uma pista por perto: