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Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Lisboa, não sejas francesa... mas podes ser italiana por uns dias

Lisboa, para já, e mais de 20 cidades do país, até Julho, voltam a acolher a FESTA DO CINEMA ITALIANO, como sempre a propor clássicos e novidades. A 16.ª edição instala-se na capital de 29 de Março a 6 de Abril.

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"L'immensità - Por Amor", o aguardado e, dizem as boas línguas, inspirado novo filme de Emanuele Crialese (o primeiro desde o distante "Terraferma", de 2011) tem honras de abertura. Drama nomeado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, com Penélope Cruz no elenco e a partir do confronto do realizador com questões de identidade de género, estreia-se Portugal esta quarta-feira, às 21h30, no Cinema São Jorge, um dos espaços principais desta edição - ao lado da Cinemateca e dos UCI Cinemas - El Corte Inglés. Crialese estará presente na sessão.

Já para o fecho da programação lisboeta fica "A Estranha Comédia da Vida", de Roberto Andò ("Viva a Liberdade"), protagonizado por Toni Servillo, um dos convidados especiais deste ano - que não faltará à sessão de encerramento e terá um espectáculo no Teatro Maria Matos.

Em destaque estarão também mais de 50 filmes, incluindo os da retrospectiva do realizador Elio Petri na Cinemateca, antestreias e oportunidades únicas, ficção e documentário. Os inevitáveis cine-jantares e a Festa Italo Disco juntam-se a uma oferta particularmente ampla que inclui a exposição do fotógrafo Luigi Ghirri no CCB e um programa multidisciplinar do Instituto Italiano de Cultura de Lisboa, além de concertos, conversas, debates e sessões especiais para pais, mães e bebés.

Se a oferta é muita, por aqui facilita-se a tarefa com cinco sugestões iniciais, todas inéditas:

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"INTERDITO A CÃES E ITALIANOS", de Alain Ughetto: Vencedora do Prémio do Júri no Festival de Annecy, esta animação em stop motion vai ser o filme exibido mais vezes durante esta edição da Festa, já que também faz parte das estreias da semana do circuito comercial. Inspirada na história familiar do realizador, em especial a dos avós, decorre em inícios do século XX e acompanha a tentativa de uma nova vida em França, dizendo adeus à região italiana de Piemonte. Uma mudança nem sempre fácil e às vezes a esbarrar num preconceito nada disfarçado, como sugere o título do filme.

Várias sessões a partir das 15h30 de quinta-feira, 30 de Março, sempre nos UCI CInemas - El Corte Inglés

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"ALLA VITA", de Stéphane Freiss: Passando da frente para trás das câmaras, o actor francês visto em "Bem-vindo ao Norte" ou "Munique" apresenta a sua primeira longa-metragem (da qual também é um dos argumentistas) depois de ter assinado uma curta há mais de dez anos. Drama ambientado na Itália rural, em Apúlia, centra-se na relação entre um agricultor local e a filha de um rabino, que começa a ganhar forma a partir da colheita de um citrino típico da região. O par protagonista, composto por Riccardo Scamarcio (actor que a Festa ajudou a revelar em Portugal) e Lou de Laâge ("Agnus Dei - As Inocentes"), é desde logo um bom motivo para ter em conta esta coprodução francesa.

Sexta, 31 de Março, às 19h30, e terça, 4 de Abril, às 22h00, no Cinema São Jorge

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"AS OITO MONTANHAS", de Felix van Groeningen e Charlotte Vandermeersch: Com um percurso muito aplaudido em festivais (venceu o Grande Prémio do Júri em Cannes), o novo filme do autor de "Ciclo Interrompido" e "Beautiful Boy" encontra-o a partilhar os créditos de realização e de argumento com a sua mulher. Este drama, no entanto, retrata outro tipo de cumplicidade: o da longa amizade entre dois homens, iniciada durante as suas infâncias, nos Alpes Italianos, e que se torna mais acidentada ao longo das suas vidas - sobretudo porque um insiste em ficar e o outro decide partir. Alessandro Borghi ("Suburra") e Luca Marinelli ("Martin Eden"), dois dos actores italianos mais entusiasmantes do momento, assumem os papéis principais.

Sábado, 1 de Abril, às 21h30, no Cinema São Jorge

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"VELAS ESCARLATES", de Pietro Marcello: Adaptação do romance homónimo do russo Aleksandr Grin, editado em 1923, o primeiro filme em língua francesa do realizador de "Martin Eden" é uma história de emancipação feminina à qual não parecem faltar heranças tanto do romanesco como do realismo mágico. Debruçando-se sobre 20 anos na vida de uma mulher na França de inícios do século XX, junta a quase estreante Juliette Jouan ao quase veterano Louis Garrel naquela que poderá ser uma das propostas mais singulares e desafiantes desta edição.

Segunda, 3 de Abril, às 22h00, no Cinema São Jorge

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"IL SIGNORE DELLE FORMICHE", de Gianni Amelio: O escândalo sexual que abalou Itália nos anos 60, e que levou à condenação do escritor Aldo Braibanti pelo envolvimento com um aluno, é revisto pelo autor de "O Ladrão de Crianças" e "As Chaves de Casa" num drama bem acolhido (e premiado) no Festival de Veneza. A liderar o elenco deste mergulho nos meandros judiciais e morais de uma época, à distância de décadas, está mais uma dupla de peso nesta lista: Luigi Lo Cascio ("A Melhor Juventude") e o habitualmente excelente Elio Germano ("A Nossa Vida").

Terça, 4 de Abril, às 21h30, e quinta, 6 de Abril, às 22h00, no Cinema São Jorge

Os dias de cão não acabaram

Como é que uma mãe solteira da classe trabalhadora lida com a precariedade económica e um novelo de dificuldades? "RAIN DOGS", a nova série britânica da HBO Max, tenta responder com uma mistura de comédia desbocada e drama avesso ao miserabilismo.

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Co-produção entre a HBO e a BBC One, "RAIN DOGS" pede emprestado o título a um tema e um álbum de Tom Waits para retratar o quotidiano desamparado, ou quase, de uma mulher dos subúrbios londrinos.

Aspirante a escritora mas a viver de biscates num clube de strip e de sessões politicamente incorrectas como modelo de pintura de nus, Costello, a protagonista desta série de oito capítulos, tem a seu cargo a filha de 10 anos, Iris, mas é legítimo que o espectador assuma que será por pouco tempo. A dupla é despejada do seu apartamento no primeiro episódio e tem como único aliado financeiro Selby, um homossexual de famílias abastadas e de temperamento difícil, acabado de sair da prisão.

Se o futuro parece incerto, Costello não se deixa abater facilmente e essa resiliência conduz uma história em que os obstáculos sucessivos não impedem que o humor vá impondo o seu espaço.

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É um equilíbrio difícil, este, embora gerido com eficácia nesta criação de Cash Carraway, autora do bestseller "Skint Estate", livro baseado numa jornada pessoal que começou na pobreza. A escritora e dramaturga londrina garante que o seu primeiro trabalho em televisão não é autobiográfico, embora tenha muito do que já observou, e essa experiência talvez ajude a perceber porque é que "RAIN DOGS", não querendo afirmar-se como exemplo de realismo britânico, tenha muito de convincente.

Valendo-se da postura desbocada de Costello e Selby, novo duo ele e ela que promete marcar o ano televisivo, a série não deixa, para já, que as dificuldades afundem as personagens num desespero sem fim à vista, como acontece em alguns dramas sobre a classe trabalhadora que não resistem a tentações de miserabilismo (armadilha que limita "Great Yarmouth: Provisional Figures", o novo filme de Marco Martins, em cartaz, também ele a mergulhar numa realidade britânica pouco documentada).

Entre diálogos e piadas sem grande filtro (que incluem cenários de abuso sexual) e um argumento do lado das personagens sem ignorar as suas falhas, parece estar aqui um muito curioso relato de uma família longe de tradicional e assumidamente disfuncional. Daisy May Cooper e Jack Farthing, nos papéis principais, são decisivos para a boa primeira impressão, e a pequena Fleur Tashjian surge confiante no seu primeiro papel. Uma série com potencial para conquistar quem incluiu "Somebody Somewhere" (também da HBO) entre as boas surpresas do ano passado.

Os três primeiros episódios de "RAIN DOGS" estão disponíveis na HBO Max. A plataforma estreia novos capítulos todas as terças-feiras.

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