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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Uma canção para chamar o Verão

HADESSA QUEIMAR 2.jpg

Com "FORTUNA", editado no ano passado, HADESSA assinou uma estreia que fez jus ao título. O primeiro álbum da cantautora foi mesmo dos mais afortunados, no que ao conjunto de canções memoráveis diz respeito, que surgiram na música portuguesa nos últimos meses, unindo tradição e modernidade, retratos pessoais e um olhar ao redor tão interventivo como multifacetado.

Do nervo pós-punk de "Dedos na Mão" (a mergulhar em inquietações laborais) ao casamento perfeito da escola dos girl groups dos anos 50 e do rock alternativo dos 90 de "Temperança", passando pela afirmação feminista de "Força Motriz" (com Maria Antónia Mendes, em tempos d'A Naifa e Señoritas e agora nos muito recomendáveis Cara de Espelho) sem esquecer a acústica e desarmante "Mãe (elegia)" (o título é auto-explicativo), aprimorou uma identidade e linguagem que já seduziam nos singles iniciais, "Fortuna" e "Ruína".

O disco, no entanto, ainda reserva algumas surpresas. Por um lado, porque vai ser editado em formato CD e vinil este Verão (para já, está disponível nas plataformas digitais). Por outro, porque o seu alinhamento vai acolher mais duas canções. "QUEIMAR TUDO E RECOMEÇAR", a primeira a ser revelada, já tinha sido ouvida numa versão mais crua no concerto de apresentação do álbum no Tokyo, em Lisboa, em Setembro de 2023, espectáculo que teve entre os convidados Momma T (que produziu o tema) e Catarina Branco (que colaborou nos arranjos e gravação).

Com mistura de Guilherme Simões, o novo single é uma ode ao recomeço e, muito provavelmente, o acesso mais veraneante da sua autora, ao reforçar a carga electrónica e o apelo à dança - algures entre a fase recente de Ana Moura e a ginga do sírio Omar Souleyman, um bailarico dos santos populares e os encontros do Festival Músicas do Mundo de Sines. Mais uma faceta revelada, portanto, e já com um videoclip que parece ter antecipado a subida de temperatura repentina:

Canta-me um sonho lindo

Still Corners 2024.jpg

Não há muitos álbuns recentes que possam orgulhar-se de ter tido um desfile de singles tão encantatórios como "DREAM TALK". O sexto longa-duração dos STILL CORNERS, que é editado esta sexta-feira, 5 de Abril, contou com belíssimos cartões de visita em "SECRET WORLD", "THE DREAM", "CRYSTAL BLUE" e "TODAY IS THE DAY", canções reveladoras do universo ainda muito longe de esgotado do projecto da britânica Tessa Murray (voz, teclados) e do norte-americano Greg Hughes (multi-instrumentista, produtor).

Tão sofisticadas como acolhedoras, feitas de melodias planantes e palavras quase sussurradas entre ambientes jangle e dream pop - com um convívio sereno de guitarras, sintetizadores e percussão (de leves sugestões tropicais) -, estas amostras são banda sonora condizente com a alvorada primaveril. E Portugal poderá ouvi-las ao vivo já no Verão: a dupla actua a 17 de Agosto no Vodafone Paredes de Coura.

Dream_Talk.jpg

Convenhamos que o cenário do festival minhoto não fica a dever nada aos dos videoclips, todos em paisagens campestres ou à beira-mar. Paisagens com qualquer coisa de onírico e etéreo, tal como a música, ou não tivesse esta nascido das recordações dos sonhos da vocalista (ponto de partida que explica o título do disco) entre estadias em França, Reino Unido e EUA.

Felizmente, já falta pouco para descobrir se a viagem criativa chegou a bom porto no formato álbum, embora a coesão destes quatro singles que chegam já com sabor a clássicos não pareça levar ninguém ao engano:

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