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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Kelly olha para as estrelas (e dança em boa companhia)

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O caminho entre o fim de uma relação amorosa e um estado de transcendência total guiou o alinhamento do novo álbum de KELLY LEE OWENS. "DREAMSTATE", o quarto longa-duração da galesa, é editado esta sexta-feira, 18 de Outubro, e propõe mais um encontro com as pistas de dança ao lado de alguns dos maiores nomes associados a esses territórios.

Tom Rowlands, metade dos Chemical Brothers, e Andrew Ferguson e Matthew McBriar, dupla mais conhecida enquanto BICEP, são colaboradores de peso de um disco com a marca da dh2, etiqueta a cargo de George Daniel, baterista dos The 1975 e também ele com créditos de produção no sucessor de "LP.8" (2022), "Inner Song" (2020) e "Kelly Lee Owens" (2017). O britânico é ainda, claro, o companheiro de Charli xcx, com quem Owens actuou recentemente em Ibiza - e não seria uma grande surpresa encontrar as duas na enésima remistura de um dos temas do famigerado "BRAT".

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Descrito como uma ode à liberdade e ao escapismo através de hinos com uma rave em vista, "DREAMSTATE" percorre outros estados além da euforia dançável. É o caso de "Ballad (In The End)", belo single de aura pastoral e o mais recente de uma colheita iniciada com "Love You Got", entre um apelo rítmico que não descarta sensibilidade pop, e que continuou em "Sunshine" e "Higher", amostras talvez menos personalizadas, mas de eficácia garantida a altas horas de comunhão em modo clubbing. Esta semana, o #sextou pode muito partir daqui...

Com um Pinguim destes, quem precisa de mais um Batman?

Spin-off televisivo de um filme particularmente esquecível do Cavaleiro das Trevas, "THE PENGUIN" é das maiores surpresas da DC em anos e nem precisa do alter ego de Bruce Wayne para convencer aos primeiros episódios, disponíveis na Max.

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Personagem algo perdida num filme que também acusava um desnorte considerável, o Pinguim de "The Batman" (2022) não deixou grandes saudades, e menos ainda grande potencial para uma saga em nome próprio ao longo de oito episódios. Mas se a visão de Matt Reeves para o submundo de Gotham City acabou por ser revelar frustrante, do Bruce Wayne baço de Robert Pattinson à duração indefensável (quase três horas de quase nada), afinal há motivos para voltarmos a ela. Ou assim sugerem, pelo menos, os três primeiros episódios de "THE PENGUIN", minissérie da HBO criada por Lauren LeFranc (argumentista de "Agents of S.H.I.E.L.D." ou "Chuck") e com Craig Zobel ("Obediência") no papel de realizador inaugural.

Desperdiçado em "The Batman", Colin Farrell tem aqui espaço para mostrar do que é feito o seu Oswald "Oz" Cobb, um dos vilões clássicos da icónica galeria do Cavaleiro das Trevas que já passou pelo cinema na pele de Danny DeVito (em "Batman Regressa", de Tim Burton) e ganhou uma versão feminina na recente (e aconselhável) série de animação "Batman: Cruzado Encapuzado", da Prime Video. E não é só feito de um rosto e corpo prostéticos, mudança que desperta inevitavelmente atenções à primeira vista. Se o trabalho de caracterização merece aplausos, o actor irlandês está à sua altura ao encarnar um vilão (com pouco de super) capaz de ir além do arquétipo para explorar a frustração e ambição de um homem amargurado com o seu mundo.

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Farrell acerta no sotaque nova-iorquino e na postura cambaleante para compor um gangster subestimado mas decidido a provar o que vale num contexto que, ao contrário do filme que inspirou esta história, já não é o dos bons contra os maus. Tirando Victor, o seu "Robin" (interpretado por Rhenzy Feliz e uma das novas personagens a reter), não há margem para a inocência neste retrato de um homem com poucas qualidades redentoras que enfrenta outros eventualmente piores. E algumas mulheres também, como Sofia Falcone, renegada tornada aliada (mas por quanto tempo?) que tem em Cristin Milioti a actriz perfeita - a estreitar a fronteira entre vulnerabilidade e insanidade apenas com o olhar magoado, sem nunca recorrer ao histrionismo.

Da dinâmica entre estas três figuras nasce uma viagem aos corredores do crime que, não sendo (nem pretendendo ser) tremendamente original, consegue alguma especificidade num arranque narrativa e esteticamente coeso.

A relação de Oswald com a mãe (Deirdre O'Connell), com uma prostituta cúmplice (Carmen Ejogo) ou com Victor dá a humanidade possível a um protagonista com mais nuances do que a sua estreia em "The Batman" faria esperar, mérito de um argumento para o qual LeFranc também contribuiu (com acessos bem-vindos de humor negro a dosear o drama e o thriller). E embora a fotografia carregue nos tons alaranjados, escolha demasiado insistente em séries e filmes norte-americanos do momento, Zobel sabe compor uma Gotham na qual se acredita, suja e decadente mas com frestas arejadas, expandindo uma das poucas ideias interessantes de Reeves. No terceiro episódio, "Bliss", o realizador oferece duas sequências especialmente fortes (visual e emocionalmente), no início e no fim, e eleva o patamar criativo já apreciável de "THE PENGUIN". Tivesse esta versão da personagem uma cartola e teria tirado de lá um coelho...

"THE PENGUIN" estreou-se a 20 de Setembro na Max e a plataforma estreia novos episódios todas as segundas-feiras até 11 de Novembro.