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Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

O espião que veio do calor

O arranque da nova série disponível na SkyShowtime é uma lição de classe e subtileza, qualidades pouco vistas em superproduções recentes. Elevada por um Michael Fassbender no seu melhor (e a liderar um elenco escolhido a dedo), "THE AGENCY" dá novo fôlego a thrillers de espionagem sem precisar de inventar muito.

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Não falta pedigree à mais recente criação dos irmãos Jez e John-Henry Butterworth, argumentistas de "Jogo Limpo", de Doug Liman, ou "Le Mans '66: O Duelo", de James Mangold. A série que adapta a francesa "A Agência Clandestina" junta nomes como Michael Fassbender, Richard Gere, Jeffrey Wright e Jodie Turner-Smith, tem Joe Wright ("Orgulho e Preconceito", "Expiação") como realizador dos primeiros episódios e conta com George Clooney entre os produtores executivos.

Alem dos dez capítulos iniciais, "THE AGENCY" já tem uma segunda temporada garantida e talvez por isso não pareça querer carregar no acelerador - pelo menos não tanto como a também recomendável "Black Doves" ou a mais esquemática "A Diplomata", outras histórias de espionagem recentes do pequeno ecrã (ambas da Netflix). Mas o ritmo pausado assenta-lhe bem, pelo menos para já, sobretudo quando tem um Michael Fassbender magnético no centro de uma narrativa que cruza experiências de vários agentes da CIA em Londres.

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À primeira vista, o actor irlandês parece repetir aqui o papel de "O Assassino", filme de David Fincher que protagonizou há dois anos. Volta a surgir na pele de um homem estóico e calculista, de poucas palavras mas certeiro nas acções, inteiramente dedicado à sua missão. Ou assim parecia, até ao momento em que uma saída brusca da sua residência na Etiópia para o Reino Unido, a pedido dos seus superiores, o obriga a separar-se de uma mulher que não encara, afinal, como só mais uma peça tão estratégica como descartável.

Esse conflito entre o pessoal e o profissional, abraçado por Fassbender com a precisão e intensidade esperadas (em modo contido), é o elemento mais intrigante de "THE AGENCY", série que se revela mais escorreita do que desafiante nas tramas secundárias (da iniciação de uma jovem agente a missões na Bielorrússia e na Ucrânia), por muito que estas possam vir a trazer grandes surpresas pelo caminho.  

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Os acima mencionados Richard Gere, Jeffrey Wright e Jodie Turner-Smith ajudam a conferir segurança a um elenco sólido, mesmo que os primeiros episódios não mergulhem a fundo nas suas personagens. Joe Wright, por outro lado, entrega já tudo ao dirigir habilmente uma trama de espionagem, depois de um percurso que começou inspirado, em filmes de época, e se tornou irregular entre mudanças de registo. O britânico é muito bom a captar uma Londres envidraçada, dominada por reflexos e azuis metálicos, cenário perfeito para um retrato da solidão, alienação e desconfiança feito com uma respiração por vezes mais cinematográfica do que televisiva (sobretudo nas cenas domésticas de Fassbender).

Para esse efeito atmosférico de travo nórdico contribui também a direcção de fotografia do sueco Jakob Ihre, colaborador habitual do norueguês Joachim Trier ("Oslo, 31 de Agosto", "Ensurdecedor", "Thelma") e outra escolha a aplaudir numa série que sabe ir envolvendo o espectador.

"THE AGENCY" estreou-se a 10 de Fevereiro na SkyShowtime e conta com novos episódios na plataforma às segundas-feiras.

Um álbum para um mundo à beira do abismo

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Se no disco anterior propunha a mudança, no próximo ANIKA defende-a com uma urgência inédita até aqui. Sucessor de "Change" (2021), "ABYSS", agendado para 4 de Abril, é descrito pela britânica radicada na Alemanha como reacção a um mundo cujo estado se encontra à beira do abismo.

Concentrado de frustração, raiva e confusão, o terceiro álbum da cantautora, poetisa e DJ dá a resposta possível ao caos contemporâneo com inspirações que recuam algumas décadas: o alinhamento é uma viragem declarada para o rock (depois da electrónica e do pós-punk explorados nos primeiros discos), com ecos do grunge e de figuras como Patti Smith, PJ Harvey ou Courtney Love, avançou a artista nas suas plataformas online.

Gravado ao vivo e em poucos dias em Berlim, "ABYSS" mostra ao quem vem no estrondoso primeiro single, "HEARSAY". Embora ANIKA não abandone o registo algo lacónico pelo qual se distinguiu, o acompanhamento instrumental é dos mais viscerais que já apresentou, na melhor tradição de guitarras alternativas à anos 90. "And you’re making up stories to push your narrative/ And you’re making up tales to be provocative", entoa num tema crítico dos meios de comunicação social e da partilha de notícias falsas. O videoclip sugere que também valerá muito a pena acompanhar esta nova faceta em palco:

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