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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

O novo testamento da pop electrónica tem mais capítulos

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Começaram pela new wave mais sombria, desviaram-se para um flirt entre synth-pop e italo disco e por estes dias mergulham em águas acid house. A dívida dos NUOVO TESTAMENTO à música mais sintetizada dos anos 80 e inícios de 90 é grande e óbvia, mas esse familiaridade não impediu que os álbuns "New Earth" (2021) e "Love Lines" (2023) oferecessem uma mão cheia de canções viciantes (e algumas vitais para apreciadores do género).

O próximo lançamento do trio que se divide entre Los Angeles e Bolonha, "TROUBLE", chega na forma de um EP de cinco temas, a 25 de Julho, e ameaça ganhar lugar cativo na mesa de cabeceira (ou nas pistas de dança mais atentas) da temporada. O single de avanço, "PICTURE PERFECT", é mais um da banda de Chelsey Crowley, Andrea Mantione e Giacomo Zatti que se instala nos ouvidos à primeira e vai insistindo em não sair até à chegada do próximo. Novo amor de Verão à vista, portanto...

Antes este robô do que mais um tech bro

Não se deixem enganar pelo título: o protagonista de "MURDERBOT" tem muito pouco de ameaçador. Pelo menos nos primeiros episódios da nova série da Apple TV+, plataforma que continua a ganhar lugar como casa-chave da ficção científica no pequeno ecrã.

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Depois de "Severance", "For All Mankind", "Silo", "Invasion" ou "Foundation", a Apple TV+ parece continuar firme na aposta em séries de ficção científica. Mas a aventura estreada há poucas semanas tem pouco em comum com a maioria das criações da plataforma, tendencialmente viradas para o drama. "MURDERBOT", apesar do título com sugestões de thriller ou de terror, é antes uma comédia com uma leveza refrescante nestes meandros, sobretudo porque cumpre sem deslizes aquilo a que uma comédia se propõe à partida: ter graça.

Adaptação dos livros "The Murderbot Diaries", da norte-americana Martha Wells, conta com créditos de autoria, argumento, realização e produção de Chris e Paul Weitz, dupla de "American Pie - A Primeira Vez" e "Era uma Vez um Rapaz" que parece compreender as águas em que se move. Esta história de um ciborgue que ganha consciência e começa a questionar o seu lugar numa sociedade futurista guiada por uma organização dúbia não traz nada de novo, principalmente a um público versado em ficção científica, mas o segredo está numa combinação hábil de ingredientes, do tom ao formato e elenco.

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Arrancando com o protagonista entregue a uma equipa de cientistas resistentes às normas do sistema (e com um cepticismo tecnológico assinalável), "MURDERBOT" não precisa de muito mais de 20 minutos por episódio para oferecer uma comédia despretensiosa e carismática.

Alexander Skarsgård ajuda muito ao encarnar um ciborgue tão desnorteado como desconfiado (e avesso a contacto visual) com um à-vontade notório, mesmo que o ouçamos mais vezes a pensar do que a falar. Felizmente, este é dos casos em que o recurso à narração em off é mais feitio do que defeito, não se limitando a descrever os acontecimentos e contendo algumas das tiradas mais hilariantes, em especial quando comentam o comportamento humano.

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A combinação de comédia com ambientes sci-fi está mais próxima dos também recentes "Mickey 17", de Bong Joon Ho, ou de "Fallout", saga da Prime Video, do que da oferta habitual da Apple TV+, e sai reforçada por uma galeria de actores em sintonia com essa proposta, de Noma Dumezweni ou David Dastmalchian, no elenco principal, a Clark Gregg ou John Cho, nomes convidados para a esgrouviada série dentro da série na qual a personagem de Skarsgård é viciada... ou não fosse o binge-watching a sua definição de um programa de lazer perfeito. Mais um sinal de humanidade na máquina?

"MURDERBOT" estreou-se a 16 de Maio na Apple TV+ e conta com novos episódios na plataforma às sextas-feiras.