Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Amigos, amigos... demónios à parte (?)

Entre o drama adolescente e o terror sobrenatural, "O VERÃO EM QUE HIKARU MORREU" não será das novidades mais descontraídas ou confortáveis na altura de ir a banhos, mas parece ter argumentos para conquistar adeptos de anime (e não só). É uma das estreias do mês da Netflix.

The-Summer-Hikaru-Died-still.jpg

Adaptação da manga homónima de Mokumokuren, publicada desde 2021 e um sucesso de crítica e de vendas no Japão, a mais recente aposta anime da Netflix traz novos motivos para continuar a seguir um género de animação que tem tido casa regular na gigante do streaming (e impôs-se, aliás, como um dos pilares mais consistentes do seu catálogo).

"O VERÃO EM QUE HIKARU MORREU" diz logo ao que vem no título, a denunciar o mote trágico de uma história na qual o protagonista se debate com uma experiência do luto de traços invulgares. E a série criada por Ryōhei Takeshita também não perde tempo a atirar o espectador para o centro do drama, ao abordar directamente a morte de Hikaru Indo, um adolescente de uma pequena aldeia do interior japonês, assim como o seu "regresso" à vida.

The Summer Hikaru Died.jpg

O que teve contornos de um acidente com final feliz esconde, afinal, uma verdade chocante: o corpo de Hikaru está agora possuído por um ser sobrenatural, capaz de replicar a sua personalidade e postura quase sem falhas, mas apenas o seu melhor amigo, Yoshiki Tsujinaka, suspeita da mudança.

Se noutras séries este cenário de dúvida alimentaria alguns capítulos, em "O VERÃO EM QUE HIKARU MORREU" a possessão é revelada a Yoshiki (e ao espectador) logo aos primeiros minutos, uma vez que o argumento está mais interessado em confrontar um jovem com a perda abrupta do seu cúmplice diário (e interesse amoroso?) enquanto aceita, apesar das reservas, conviver com o seu substituto aparentemente perfeito. 

O primeiro episódio, "Daitaihin", consegue dizer muito em pouquíssimo tempo (a duração não chega aos 25 minutos), um bálsamo quando tanta concorrência insufla capítulos sem grande critério narrativo. Nesse aspecto, este anime promete ser tão sucinto e certeiro como a também recente "Murderbot" (Apple TV+), outro raro caso televisivo em que menos pode ser mais.

The Summer Hikaru Died 3.jpg

O arranque também se sai bem no contraste entre o tom bucólico e sinistro, com a serenidade veraneante a ser repentinamente interrompida por acessos de paranóia e terror - e a deixar no ar que Yoshiki talvez não seja o único na sua comunidade a aperceber-se da transformação insólita do amigo.

Apesar deste ambiente de suspense com eventuais sustos, a série começa por conquistar pelas cenas intimistas de uma amizade interrompida, reavaliada e reiniciada, deixando questões sobre identidade, confiança, dependência ou solidão - e com o fardo particularmente pesado de uma escolha difícil na entrada na idade adulta. Hikaru morreu, sim, mas parece estar a nascer aqui uma bela história...

O primeiro episódio de "O VERÃO EM QUE HIKARU MORREU está disponível na Netflix desde 5 de Julho. Os restantes estreiam-se na plataforma nos próximos sábados.

A (nova) vida luminosa

Safe-Mind-by-Yulissa-Benitez.jpg

Além de ser metade dos Boy Harsher (que regressaram a palcos portugueses há poucos dias) e de assinar bandas sonoras de filmes, Augustus Muller tem mais um projecto em mãos.

SAFE MIND, dupla criada com Cooper B. Handy (AKA LUCY), vai editar o primeiro álbum, "CUTTING THE STONE", já este mês, dia 25, e as suas canções afastam-se substancialmente da pop electrónica soturna até aqui indissociável do produtor norte-americano.

A aventura paralela começou, no entanto, no disco mais recente dos Boy Harsher, "The Runner" (2019). Cooper B. Handy foi um dos convidados e dessa colaboração nasceu "Autonomy", um dos raros temas luminosos e orelhudos do duo formado em Savannah (e também um dos pontos altos do respectivo álbum). Da experiência resultaram outros encontros criativos entre Muller e aquele que se tornaria o vocalista da sua nova banda, em torno de canções que procuram soar "mais sinceras", descreve a dupla nas suas redes sociais.

Cutting the Stone.jpg

De "6' Pole", primeira amostra revelada em 2024, à recente "Hold on to That", os SAFE MIND mantêm o gosto retro da música dos Boy Harsher, mas têm estado mais focados no início dos anos 90 do que em meados da década anterior.

Synth-pop contagiante com tempero baleárico que não dispensa guitarras ocasionais, tanto lembra alguns capítulos dos New Order como a fase áurea dos Happy Mondays e funciona especialmente bem em "STANDING ON AIR", single reluzente que segue as melhores pistas deixadas por "Autonomy".

O videoclip, dirigido por Guy Kozak (cúmplice habitual de Cooper B. Handy), reforça o lado soalheiro e, tal como a canção, parece saído directamente da era do VHS:

Pág. 1/2