A julgar pelo trailer e restantes elementos promocionais, “Serenity” poderia parecer, à primeira vista, mais um blockbuster formulaico e indistinto executado por um qualquer tarefeiro de Hollywood e destinado a saciar os interesses de quem se deslocasse às salas de cinema para devorar mais um filme-pipoca.
Contudo, esta proposta cinematográfica é mais peculiar do que um olhar superficial sugere, uma vez que é uma transposição de uma série televisiva, “Firefly”, exibida nos EUA e cancelada ao 11º episódio. Embora os resultados das audiências não terem sido especialmente marcantes, a série foi alvo de um considerável interesse quando foi editada em DVD, encorajando a continuidade da saga no grande ecrã.
Outro elemento curioso do filme é o facto de ser a estreia na realização de longas-metragens de Joss Whedon, criador não só de “Firefly” mas de outras séries televisivas de culto como “Buffy, a Caçadora de Vampiros” e “Angel”, contando ainda com uma sólida carreira de argumentista para cinema (“Toy Story” ou “Titan A.E.”) e banda-desenhada (em “Astonishing X-Men”, assinalando uma das mais elogiadas fases dos heróis mutantes dos últimos anos).
Para além destes elementos que a tornam algo distinta de películas do género, “Serenity” salienta-se de muita dessa produção ao oferecer uma conseguida mistura de ficção científica, acção e humor, apresentando uma estimulante aventura intergaláctica ambientada em cenários futuristas. Centrando-se na tripulação da nave Serenity, o filme segue as suas mais recentes atribulações, que envolvem o auxílio a dois fugitivos da Aliança – a entidade que detém o poder -, iniciando assim uma conturbada batalha recheada de múltiplos momentos de tensão.
Apesar de não pisar território novo – as influências de “Star Wars” e “Star Trek”, por exemplo, são evidentes -, “Serenity” possui uma energia contagiante, pois Whedon relega os efeitos pirotécnicos para segundo plano e prefere basear-se sobretudo nas personagens, que trata com um sentido respeito e devoção. Contudo, o desenvolvimento das personagens, embora seja mais denso do que o que ocorre em muitas obras semelhantes, não chega a ser plenamente conseguido, já que o elenco é demasiado extenso e nem todos têm “tempo de antena” suficiente. Este factor não será problemático para quem viu a série, mas poderá causar alguns entraves – principalmente nos primeiros minutos - a quem vê o filme sem ter conhecimento prévio do status quo da acção.
Mesmo assim, “Serenity” é ainda um título bastante recomendável, marcando o início de uma nova space opera – estão prometidas novas aventuras – que incorpora a economia narrativa, ousadia e carácter lúdico da série-B e o sentido de grandiosidade e sopro épico que faltou aos mais recentes episódios de “Star Wars”.
O filme exibe, a espaços, sinais do seu orçamento limitado e conta com um elenco irregular – Chiwetel Ejiofor compõe eficazmente um vilão mais ambíguo do que o esperado, porém o resto do elenco raramente ultrapassa a mediania -, mas Whedon compensa essa limitações com uma realização fluida e vibrante, afirmando-se como um óptimo gestor de cenas de acção e cliffhangers (a última meia hora possui um ritmo vertiginoso, enclausurando os protagonistas e testando os seus limites).
“Serenity” pode não ser um grande filme, mas é um soberbo entretenimento e uma óptima entrada de Joss Whedon em domínios da sétima arte. É um blockbuster, sim, mas não ofende a inteligência e é um dos mais inventivos surgidos em 2005, exibindo uma solidez que falta a muitas das obras – das assumidamente comerciais às mais alternativas - que vão estreando nas salas. Uma boa surpresa que merece ser vista no grande ecrã.
E O VEREDICTO É:3,5/5 - BOM
17 comentários
Pedro Ginja 07.11.2005 10:47
Parecenças com Star Trek e Star Wars???
Não concordo de maneira nenhuma. Só se for por se passar no espaço e ter uma nave espacial e ter alguma parecença (muito pouca no entanto na minha opinião) entre o Han Solo e o capitão de Serenity. De resto... Ora Vejamos:
- Jovem perturbada psiquicamente (Que é aliás o cerne da história) - Não existem Et´s apenas humanos - Não usam armas lasers ou grandes tecnologias - Não tem cenas ridículas (esta é mais para os ultímos episódios de Star Wars) - Não tem história de amor melosa e ridícula... - As personagens parecem seres humanos reais e não estereótipos de grandes heróis
Tendo em conta que é um filme acima da média, acho que vale o preço do bilhete, e sai valorizado se for visto no grande ecrã porque aí a sua exuberância visual brilha mais.
Por coerência com o que escrevi sobre o filme no meu blogue tenho que discordar com a última frase, ou seja, "merece ser vista no grande ecrã".
Concordo em traços largos com a tua análise e gosto das personagens mas não deixo de sentir que estamos perante um episódio especial da série Firefly. E, desse modo, não tinha sido má opção ter esperado pelo DVD para juntar ao DVD que tenho da série e sentir que a série afinal teve o fim que merecia (ou o primeiro dos seus fins).
De qualquer forma é bem mais refrescante que ir ver um dos filmes do Star Trek!
Sim, tem mais energia e vitalidade do que os episódios recentes da saga "Star Wars". E não me venhas dizer que em "Star Wars" o ponto forte são as interpretações...
Eu sou totalmente da opinião do membio.Aliás o comentário que deixei no meu blog vem de encontro ao que ele disse.O filme a nível de intrepretações é péssimo!Dizer que isto é melhor que o Star Wars...poupem-me. Nem aos calcanhares lhe chega!!!
sinceramente esperava um pouco mais, tem alguns bons momentos, mas a irregularidade dos actores e da limitação do financiamento notam-se... Um ponto positivo para o humor e outro para algumas cenas de acção bastante bem conseguidas, mas fica-se pelo mediano. É pena!