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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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A BANDA QUE VEIO DO FRIO

Num Verão mais quente do que o habitual em terras lusas, a actuação de uma banda oriunda da Islândia era uma proposta no mínimo curiosa, já que as sonoridades assentes em atmosferas glaciares dos Sigur Rós não tinham contraponto no tórrido clima que envolve Lisboa, cidade que acolheu o grupo no Pavilhão Atlântico no domingo passado.

O colectivo, que passou já por palcos portugueses na apresentação dos muito aclamados "Ágætis Byrjun" e "()", trouxe agora na bagagem o seu mais recente álbum de originais, "Takk...", editado em 2005 e que fora também motivo de um concerto no Coliseu de Lisboa nesse mesmo ano.

O quatro disco do grupo introduziu tonalidades mais abrasivas ao som da banda, que emergem inesperadamente entre plácidos cenários etéreos, e por isso a noite de ontem viveu muito desse confronto entre momentos de distorção das guitarras e outros de teor mais contemplativo e sereno.

Sigur Rós no Pavilhão Atlântico

Essa combinação híbrida gerou momentos de invulgar beleza, caso de "Glósoli", o primeiro tema, onde o grupo actuou atrás de uma cortina que tapava o palco, e de quase todos as outras canções da primeira metade do espectáculo. Não tão absorventes foram os episódios finais, marcados por sonoridades mais tranquilas, por vezes sonolentas, longe do notável sentido de urgência presente nos momentos iniciais (a excepção foi "Popplagið", o visceral encore, uma magnífica erupção de descarga que rompeu com a crescente monotonia entretanto instalada).

Os desequilíbrios do alinhamento não impediram que a noite não tenha oferecido várias situações encantatórias, provenientes de uma música de difícil catalogação - ora ambiental, ora próxima do pós-rock, ora dream pop - que se aproxima de domínios dos Mogwai, Slowdive ou Brian Eno sem prescindir de claros sinais de personalidade.

Ao longo de cerca de duas horas, a frágil e expressiva voz de Jónsi Birgisson, através do idioma hopelandish, criado pela banda, embalou um público dedicado que aplaudiu sempre de forma efusiva cada canção (inclusive com ocasionais e dispensáveis acessos de histeria).
Além do som, também a vertente visual foi conseguida, tanto pelas imagens projectadas como pela eficaz coordenação das luzes com as canções, evidenciando um cuidado trabalho cenográfico.

Sigur Rós no Pavilhão Atlântico

Apesar de um espaço como o Pavilhão Atlântico parecer à partida pouco apropriado para que a aura intimista da música dos Sigur Rós se dissemine, o facto do palco estar situado a meio contribuiu para que o efeito não se perdesse por completo.

No final, os elementos do grupo e os restantes músicos que os acompanharam regressaram a palco para uma vénia colectiva, encerrando de forma sedutora a digressão centrada em "Takk...". O título do álbum foi então projectado, o que é especialmente significativo por se tratar do termo islandês para "obrigado".

Antes dos Sigur Rós actuaram as igualmente islandesas Amiina, quarteto electroacústico cujas sonoridades delicadas e angelicais funcionaram enquanto agradável aperitivo antes da chegada dos seus conterrâneos (em cujo concerto também participaram). Embora algo estática, a prestação da banda proporcionou momentos de uma frágil beleza que felizmente teve continuidade durante o resto da noite.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

Sigur Rós - "Glósóli"

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