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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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Pequenos crimes entre amigos

Um dos sucessos do cinema alemão recente, “Os Edukadores” (De Die Fetten Jahre sind vorbei / The Edukators) é a segunda longa-metragem de Hans Weingartner, mas a primeira que chega a salas nacionais.

A película segue as peripécias de três jovens que, perante uma sociedade que não consegue integrá-los nem gerar condições de igualdade social, decidem adoptar uma atitude proactiva e organizam alguns actos clandestinos, invadindo casas de famílias abastadas quando os donos estão ausentes, desarrumando os objectos que lá se encontram e deixando mensagens como “Os dias de abundância vão acabar” ou “Vocês têm demasiado dinheiro”.


Revoltados contra um sistema cada vez mais capitalista e desumano, Peter, Jan e Jule encaram os seus actos criminosos como formas de encorajar outros a contestar a sociedade em que se inserem e a lutar pelos seus direitos, visando um maior equilíbrio e igualdade social. Todavia, numa das suas investidas, os planos são interrompidos quando, ao se prepararem para deixar mais uma moradia, se deparam com o dono desta, algo inédito até então. Este imprevisto suscitará uma alteração dos planos do trio, que raptam o homem de meia idade e o levam para uma casa numas montanhas próximas, iniciando uma viagem física e ideológica.



Misto de filme político, drama, thriller e road movie, marcado por alguns momentos de humor, “Os Edukadores” é uma obra fresca e pertinente, debruçando-se sobre questões actuais e fornecendo um interessante retrato de uma juventude algo descoordenada mas que tenta, apesar disso, lutar por aquilo em que ainda acredita, mesmo que as suas convicções não sejam bem recebidas pela maioria.

Hans Weingartner aposta num trabalho de realização simples, mas bastante eficaz, capaz de intercalar ambientes de tensão e suspense com cativantes cenas melancólicas e contemplativas, mantendo sempre traços de um bem conseguido realismo. Igualmente sólida é a direcção de actores, uma vez que o jovem trio protagonista é sempre credível e consegue dar dimensão, humanidade e verosimilhança às suas personagens.


Embora Stipe Erceg (Peter) seja pouco conhecido, Julia Jentsch (Jule) e sobretudo Daniel Brühl (Jan) contam já com filmes mediáticos nas suas carreiras, casos de “Sophie Scoll – Os Últimos Dias”, de Marc Rothemund, protagonizado por Jentsch, e o muito acarinhado “Adeus Lenine!”, de Wolfgang Becker, que deu a conhecer o promissor talento interpretativo de Brühl (que se confirma aqui).


Percebe-se porque é que “Os Edukadores” não é um filme consensual, uma vez que expõe, a espaços, alguns desequilíbrios, sendo o maior destes o didactismo que se insinua em algumas sequências, especialmente gritante numa das conversas que os três jovens têm com o seu prisioneiro e descobrem que este, durante a sua juventude, também foi revolucionário e lutou contra o capitalismo, revelação que suscita uma troca de ideias que se pretende ousada e complexa mas que já não surpreende ninguém. Felizmente, o filme consegue contornar esta cena algo simplista e desenvolve-se de forma mais estimulante nos momentos seguintes, oferecendo um desfecho suficientemente interessante e apropriado aos traços das personagens.


Uma inspirada reflexão sobre o crescimento, a amizade, o conflito de gerações e a solidão, “Os Edukadores” é uma obra idealista, a espaços ingénua e utópica, mas cuja coerência e genuinidade lhe permitem superar alguns dos seus entraves e afirmar-se como um dos mais belos filmes de 2005, que apesar de partilhar elementos com títulos como “Clube de Combate”, de David Fincher, ou “Os Sonhadores”, de Bernardo Bertolucci, consegue definir um espaço seu. E é também um dos raros casos onde a música complementa a imagem na perfeição, originando uma das melhores bandas-sonoras do ano...


E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM


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