INFERNO NA TERRA
Autora de um dos mais interessantes filmes portugueses da década passada, "Os Mutantes", e de outros títulos menos consensuais como "Três Irmãos" ou "Água e Sal", Teresa Villaverde apresenta em "Transe" mais uma película que contribui para a consolidação de uma obra singular e desafiante, para o melhor e para o pior.
Ancorado no percurso de Sonia, uma jovem russa que emigra na esperança de encontrar oportunidades para uma vida de maior prosperidade, o filme começa por seguir a protagonista até à Alemanha, onde esta encontra trabalho numa oficina, mas cuja rotina é subitamente interrompida quando o seu destino se cruza com uma rede de tráfico de mulheres para prostituição.
Assim, Sonia inicia uma dolorosa espiral descendente que passa pelo rapto, encarceramento e violação, tanto física como psicológica, durante uma interminável viagem pela Europa (da Alemanha levam-na para Itália e, depois, para Portugal), aqui palco de um Inferno na Terra.
Em todo o caso, Villaverde proporciona aqui um meritório, ainda que desigual, retrato de uma experiência in extremis, resultando num filme de difícil digestão mas suficientemente relevante para justificar o seu visionamento.
Ancorado no percurso de Sonia, uma jovem russa que emigra na esperança de encontrar oportunidades para uma vida de maior prosperidade, o filme começa por seguir a protagonista até à Alemanha, onde esta encontra trabalho numa oficina, mas cuja rotina é subitamente interrompida quando o seu destino se cruza com uma rede de tráfico de mulheres para prostituição.
Assim, Sonia inicia uma dolorosa espiral descendente que passa pelo rapto, encarceramento e violação, tanto física como psicológica, durante uma interminável viagem pela Europa (da Alemanha levam-na para Itália e, depois, para Portugal), aqui palco de um Inferno na Terra.
Revestido de maiores camadas de crueza e crueldade do que as que já assombravam "Os Mutantes", "Transe" é um olhar muito pouco condescendente sobre a faceta mais obscura da humanidade, onde Sonia surge como o cordeiro sacrificial que não tem alternativa senão sujeitar-se ao rumo determinado por terceiros. Daí o título do filme, que não poderia ser mais apropriado para caracterizar o estado de anestesia, alienação e apatia em que a protagonista é forçada a recolher-se.
A actriz principal, Ana Moreira, é determinante para que esse efeito tenha impacto, e se outras películas atestavam já a sua entrega e expressividade em "Transe" o seu desempenho vai ainda mais além, evidenciando na perfeição o concentrado de dor e humilhação de que a sua personagem é alvo, confirmamndo-a como uma das mais brilhantes actrizes da sua geração.
Se a interpretação de Ana Moreira é magnífica, "Transe" não é, contudo, tão bem-sucedido noutros aspectos, sendo prejudicado por alguma pretensão no trabalho de realização de Villaverde, que não resiste a sequências dominadas por planos longos e redundantes, desnecessárias num filme capaz de gerar, noutros momentos, uma intensa e cortante carga realista.
A presença ocasional da voz off tem também um interesse discutível, tornando-se por vezes quase embaraçosa, e o desenlace revela-se pouco satisfatório ao apostar num simbolismo tão forçado como hermético. "Transe" peca ainda por mergulhar num acérrimo pessimismo e miserabilismo, demasiado frequente em algum cinema português, o que se por um lado gera um muito eficaz e desarmante efeito claustrofóbico não deixa de ser excessivo.
A actriz principal, Ana Moreira, é determinante para que esse efeito tenha impacto, e se outras películas atestavam já a sua entrega e expressividade em "Transe" o seu desempenho vai ainda mais além, evidenciando na perfeição o concentrado de dor e humilhação de que a sua personagem é alvo, confirmamndo-a como uma das mais brilhantes actrizes da sua geração.
Se a interpretação de Ana Moreira é magnífica, "Transe" não é, contudo, tão bem-sucedido noutros aspectos, sendo prejudicado por alguma pretensão no trabalho de realização de Villaverde, que não resiste a sequências dominadas por planos longos e redundantes, desnecessárias num filme capaz de gerar, noutros momentos, uma intensa e cortante carga realista.
A presença ocasional da voz off tem também um interesse discutível, tornando-se por vezes quase embaraçosa, e o desenlace revela-se pouco satisfatório ao apostar num simbolismo tão forçado como hermético. "Transe" peca ainda por mergulhar num acérrimo pessimismo e miserabilismo, demasiado frequente em algum cinema português, o que se por um lado gera um muito eficaz e desarmante efeito claustrofóbico não deixa de ser excessivo.
Em todo o caso, Villaverde proporciona aqui um meritório, ainda que desigual, retrato de uma experiência in extremis, resultando num filme de difícil digestão mas suficientemente relevante para justificar o seu visionamento.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL