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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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OS BRAVOS DO PELOTÃO

A par do recente "Voo 93", de Paul Greengrass, "World Trade Center", de Oliver Stone, distingue-se por ser um filme que se debruça directamente sobre os acontecimentos trágicos do 11 de Setembro, mas enquanto que a película do realizador britânico seguia as peripécias em torno de um dos aviões desviados pelos terroristas, o de Stone incide sobre o ataque às Torres Gémeas.
Para além desta diferença na escolha das situações focadas, manifesta-se sobretudo um contraste na forma de abordagem das mesmas, pois se Greengrass opta por um estilo clínico e com uma perspectiva global dos acontecimentos, aproximando-se do docudrama, o polémico cineasta norte-americano segue um registo claramente ancorado em poucas personagens, sendo mais intimista e inesperadamente caloroso.

Baseado na história verídica de dois elementos da Polícia Portuária de Nova Iorque que, ao tentarem socorrer as vítimas dos destroços do World Trade Center, ficaram soterrados nos escombros durante horas, o filme presta um óbvio e sentido tributo às vítimas dos atentados e aos que colocaram as vidas em risco para as auxiliar

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Ao contrário do que ocorre em grande parte da obra de Stone, "World Trade Center" mostra-se estranhamente livre de perspectivas incisivas e demolidoras acerca da conduta dos EUA, optando por evitar tomar posição quanto aos atritos que geraram os trágicos acontecimentos ocorridos há cinco anos.
Está, portanto, longe da aspereza de títulos como "Nascido a 4 de Julho" ou "Assassinos Natos" e das coléricas críticas à América que aí se encontravam, e distancia-se igualmente de análises acerca das motivações dos terroristas, poupando o espectador a rebuscadas teorias da conspiração e intrusivas descargas ideológicas.
A preocupação de Stone aqui é, essencialmente, evidenciar a nobreza de carácter dos que se arriscaram para salvar outros, oferecendo uma justa homenagem aos elementos da polícia, bombeiros e a todos os restantes que contribuíram para que as consequências dos atentados não fossem ainda mais nefastas.

Seguindo a operação de salvamento dos agentes John McLoughlin e Will Jimeno e, em paralelo, a crescente tensão e desespero das suas famílias, "World Trade Center" é um drama bem-intencionado e suficientemente sólido, mas fica aquém do brilhantismo.
Apostando numa narrativa linear e pouco inventiva, prejudicada por algumas quebras de ritmo e cenas redundantes, o filme proporciona mais de duas horas com tanto de interessante como de desequilibrado. Se Stone tem mérito por prescindir do histerismo que minou alguns dos seus trabalhos, peca por apresentar uma película demasiado comedida e convencional, que se não fosse pelos acontecimentos em que se centra não estaria muito longe de outros filmes de resgate.

A falta de risco manifesta-se ainda tanto na banda-sonora "limpinha", embora não desagradável, de Craig Armstrong, em algumas desnecessárias sequências em slow motion ou na construção de personagens, demasiado genéricas, cabendo sobretudo aos actores aproximá-las do espectador. Felizmente conseguem-no, já que o elenco integra Nicolas Cage e Michael Pena, ambos com interpretações competentes na pele dos dois polícias, e Maria Bello e Maggie Gyllenhaal no papel das respectivas esposas. A dupla feminina supera a masculina, não só porque as personagens são menos estereotipadas mas sobretudo porque as actrizes evidenciam uma entrega e contenção difíceis de conciliar, gerando as cenas de maior densidade emocional.

"World Trade Center" ainda não é o grande filme que poderá nascer das cinzas do 11 de Setembro, mas é uma obra honesta, relevante e por vezes comovente, que atesta que na resposta às piores atrocidades pode emergir o melhor da esfera humana. E por mais estranho que seja ver Oliver Stone defendê-lo, sem um grama do habitual cinismo e niilismo, o cineasta merece aplausos por uma experiência cinematográfica que, apesar de irregular, resulta e envolve.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

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