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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Ray of night

Em 1998, com "Ray of Light", Madonna demonstrou, para quem ainda tivesse dúvidas, que não iria deixar tão cedo o seu lugar no trono como rainha da pop, conseguindo nesse disco um dos seus picos comerciais e artísticos, que compensou o percurso menos auspicioso que a marcou depois do lançamento do polémico "Erotica" (1992).

Aliando-se a William Orbit, a cantora surpreendeu ao apostar numa absorvente e refrescante pop electrónica, revelando, mais uma vez, que tinha sentido de oportunidade na escolha dos colaboradores, pois a participação do produtor inglês foi decisiva para que o álbum resultasse e se tornasse no mais conseguido da sua carreira.

O mais dançável "Music" (2000) e o introspectivo e subvalorizado "American Life" (2003) reforçaram o contacto com a electrónica, mas aí Madonna recorreu sobretudo à produção do francês Mirwais, que lhes imprimiu sinais do french touch, através de sonoridades como um house algo encostado aos Daft Punk (no primeiro disco), e uma interessante fusão electroacústica, mais experimental (no segundo), embora fosse sempre a pop a comandar as operações.

Como antecipação para o álbum de 2005, "Confessions on a Dance Floor", foi escolhido o infeccioso single "Hung Up", entrada directa para a lista dos seus temas mais populares, uma canção festiva de irrepreensível eficácia que, samplando "Gimme Gimme Gimme", dos Abba, deixou bem claro que Madonna estava de volta e deixava de novo a sua marca.


Produzido por Stuart Price (mais conhecido como Jacques Lu Cont), elemento dos Les Rythmes Digitales e Zoot Woman, o disco reincide na electrónica mas não é uma repetição da receita dos antecessores, enveredando por ambientes disco-sound e eurodance, deixando claro que este é um party album como a cantora já não fazia desde inícios dos anos 80.


Despretensioso e nocturno, foi criado tendo em vista as pista de dança, como o título indicia, e nesse sentido é um trabalho de assinalável competência, destilando vibração e energia do princípio ao fim, sem pausas entre as canções, exigindo o acompanhamento e rendição do ouvinte.


Se por um lado essa coesão é uma vantagem, pode tornar o disco menos sedutor para audições noutros contextos, já que os temas resultam melhor como um todo do que individualmente e, embora viciantes e acessíveis, não são dos melhores que Madonna já criou.
Há alguns momentos altos, como o portentoso "I Love New York", ode electrorock à cidade que nunca dorme, "Forbidden Love", episódio dream pop próximo dos Air, ou o incontornável "Hung Up", mas de resto não há muitos mais acima de uma sólida mediania.

Menos estimulante e denso do que os três álbuns anteriores, "Confessions on a Dance Floor" é, mesmo assim, um bom regresso, embora a auto-citação da cantora se torne, por vezes, cansativa, já que o refrão de "Push" é primo direito do de "Like a Prayer" e as melodias de "Isaac" lembram, a espaços, as de "Frozen", e a canção até insiste na reflexão espiritual já implementada em "Ray of Light".
O regresso ao passado repete-se na efervescente "How High", em versos como "Nobody's Perfect/ I Guess I Deserve It", que recordam títulos de canções de "Music".

Retrofuturista, kitsch, por vezes algo genérico (com sonoridades vizinhas das de Goldfrapp, Kylie Minogue, Depeche Mode, Gwen Stefani ou Daft Punk) e sempre minuciosamente produzido, "Confessions on a Dance Floor" é um álbum cativante mas cujo impacto emocional é bem menor do que as doses de adrenalina que as suas canções irradiam, equilíbrio francamente mais conseguido no ainda insuperável "Ray of Light". Plenamente satisfatório nas noites que poderá animar, provavelmente esquecível nas manhãs seguintes.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

Madonna - "I Love New York"

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