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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

BOA MÚSICA PARA AS MASSAS

Se na década de 90 os Depeche Mode atravessaram uma fase marcada por várias convulsões internas, que quase levaram à sua dissolução (como a saída de Alan Wilder ou os problemas pessoais de Dave Gahan), o grupo também se debateu com alguns problemas durante a entrada para o novo milénio, pois “Exciter”, o seu álbum de 2001, teve uma recepção algo distante tanto por parte do público como da crítica, sendo um dos seus trabalhos menos inspirados.

Esse factor não fez parar os elementos da banda, já que tanto Dave Gahan como Martin Gore editaram discos a solo (ainda que não muito convincentes) e o tríptico “Remixes 81-84” ofereceu remisturas de canções dos Depeche Mode por parte de nomes como os Goldfrapp, Air ou Kruder & Dorfmeister.
Nada disto impediu, no entanto, que um novo registo de originais do trio fosse esperado com expectativa, e mesmo que “Playing the Angel”, de 2005, não esteja à altura das mais optimistas, não deixa de ser um regresso em forma.

Evidenciando um grupo igual a si próprio, o álbum reúne as atmosferas densas e enigmáticas em que os Depeche Mode se especializaram ao longo dos anos, e apesar de “Precious”, o primeiro single, apostar numa electropop discreta e apaziguada, a maioria dos restantes temas estão contaminados por consideráveis doses de negrume e aspereza.

 

“A Pain That I’m Used To”, a faixa de abertura, contém um jogo de guitarras e electrónicas industriais simultaneamente rude e melódico (próximo dos domínios mais pop de “With Teeth”, dos Nine Inch Nails), e a canção seguinte, a superlativa “John the Revelator”, é ainda mais portentosa e viciante, recuperando as influências gospel de “Songs of Faith and Devotion”, mesclando-as com um travo digital e esculpindo um dos melhores momentos do disco.

Infelizmente, grande parte dos temas de “Playing the Angel” não são do calibre destes dois, pois embora sejam geralmente agradáveis, enveredam por territórios mais acomodados e sem grande ousadia.
Episódios etéreos, contemplativos e excessivamente longos como “I Want it All” ou “The Darkest Star” são disso exemplo, assim como “Macro” e “Damaged People”, onde Martin Gore ganha protagonismo vocal mas fica abaixo do carisma e carga dramática de Dave Gahan (que, mais uma vez, comprova ser um dos grandes vocalistas das últimas três décadas).

“Nothing’s Impossible” e “Lilian”, menos midtempo, optam por uma conseguida claustrofobia gótica, salientando-se como os dois grandes momentos da segunda metade do álbum, e é pena que a banda nem sempre mergulhe neste tipo de ambientes, pois revelam-se os mais satisfatórios (tendo gerado magníficos resultados em “Ultra”, que é ainda o último grande disco do grupo).

Adulto, sofisticado e introspectivo, “Playing the Angel” não acrescenta muito ao que os Depeche Mode já fizeram, mas atesta que o trio ainda é capaz de proporcionar um bom conjunto de canções, o que não deixa de ser notável tendo em conta a sua longevidade, algo de que nem todos os projectos de hoje que surgiram nos anos 80 (ou mesmo 90) se podem orgulhar.
A devoção pode, então, continuar, e espera-se que não termine tão cedo.
 
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

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