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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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REVOLUÇÃO SEM MUDANÇA

Impondo-se como uma das mais curiosas bandas europeias nascidas na década de 90, os belgas dEUS desde cedo mostraram ser capazes de criar uma interessante sonoridade fusionista que tanto recorre ao indie rock como à folk, ao jazz ou à pop, gerando canções que por vezes assentam num desbragado experimentalismo a par de outras mais acessíveis e convencionais.

“Pocket Revolution”, o seu quarto álbum de originais, é o sucessor do soberbo e mal amado “The Ideal Crash”, de 1999, mas ao contrário desse registo algo atípico no percurso do grupo (recebido com alguma surpresa devido ao quase abandono de uma vertente rude das canções, vincado pelo decréscimo de momentos de descarga noise), não traz grandes alterações aos ambientes habituais dos dEUS, seguindo as mesmas referências que marcaram esse disco de ruptura mescladas com aquelas presentes em “Worst Case Scenario” ou “In a Bar, Under the Sea”.

Por um lado, a ausência de novidade resulta a seu favor, uma vez que a banda já provou ser consistente e credível nesse tipo de atmosferas, contudo lamenta-se que um projecto que sempre se destacou pela ousadia e inventividade – que por vezes nem geraram bons resultados, é certo, como o hermético EP “My Sister is My Clock” pode atestar – se apresente aqui tão acomodado aos seus próprios domínios.

Quem nunca se interessou especialmente pela banda dificilmente se deixará envolver agora, mas aqueles que aderiram a este pequeno fenómeno de culto provavelmente continuarão a depositar-lhe alguma confiança, já que, apesar de não ser particularmente criativo, “Pocket Revolution” oferece ainda um conjunto de sólidas canções.

 

 

 

 


A maioria dos temas não consegue ser tão impressionante como os de álbuns anteriores – não há aqui momentos de génio como em “The Ideal Crash” -, no entanto o cardápio sonoro mantém-se sugestivo e razoavelmente versátil, oscilando entre cenas de considerável tensão, como “Bad Timing”, uma boa porta de entrada para o disco (cuja progressiva explosão das guitarras remete para “Instant Street”) ou “If You Don´t Get What You Want”, que recupera a intensidade dos primeiros dias da banda.

As composições mais conseguidas, são, contudo, as mais calmas, onde os climas de introspecção são a companhia ideal para a voz de Tom Barman e as suas crónicas sobre experiências mundanas e as relações humanas. “7 Days 7 Weeks” e “Include Me Out”, serenas mas densas, são primas direitas de “The Magic Hour” e “Dream Sequence #1”, dois dos picos do álbum antecessor, e demonstram que os dEUS, mesmo não estando na sua fase áurea, ainda são talentosos escritores de canções.

“Pocket Revolution” não é, assim, um disco revolucionário, mas felizmente nem todos os bons discos precisam de o ser. Agora só se espera que não se tenha de aguardar mais seis anos pelo seu sucessor.
 
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

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