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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Duas vidas e um carro

Karl é um jovem com uma carreira promissora numa companhia de seguros, mas cujo sucesso profissional lhe é quase indiferente, mantendo-o numa rotina sem surpresas e num crescente estado de apatia.

O cenário muda quando o patrão o escolhe para investigar uma empresa de aluguer de automóveis, o que o leva a candidatar-se a um cargo de condutor de forma a conhecer o negócio por dentro.

É aí que trabalha Hans, cuja postura irriquieta e espirituosa não poderia estar mais distante do seu comportamento tímido e cauteloso, mas apesar desta diferença - ou talvez por causa dela, nasce rapidamente entre os dois uma atípica cumplicidade.

 

 

 "Um Amigo Meu" (Ein Freund von mir), segunda longa-metragem de Sebastian Schipper, segue esta amizade repentina oscilando entre o drama e a comédia, investindo nos contrastes de duas personagens cujos rumos se entrecruzam e os obrigam a rever os seus modos de perspectivar a vida.

 

Retrato da solidão e individualismo cada vez mais presentes nas sociedades contemporâneas, o filme tem uma premissa interessante e algumas boas ideias, mas à semelhança do seu protagonista é quase sempre demasiado hesitante, enveredando por mudanças de tom algo abruptas que o tornam numa obra desequilibrada.

Por um lado, os momentos cómicos são mais curiosos do que particularmante hilariantes; por outro, a vertente dramática não explora as personagens além da superfície, usando-as mais para episódios caricaturais e não retirando delas uma densidade digna de nota.

 

A realização de traços contemplativos potencia ocasionais sequências visualmente apelativas, sobretudo nas cenas nocturnas, embora instale também alguma monotonia e acentue o ritmo demasiado lento do filme, onde os gags nem sempre têm o timing mais apropriado.

 

 

Daniel Brühl, uma das mais fortes promessas alemãs, cujo olhar expressivo marcou "Adeus Lenine!", de Wolfgang Becker, ou "Os Edukadores", de Hans Weingartner, apresenta mais um bom desempenho, e Jürgen Vogel sai-se igualmente bem num registo díspar, quase delirante, ainda que nem eles nem a reluzente Sabine Timoteo consigam disfarçar as irregularidades do argumento.

Melhor do que este é a banda-sonora, com belas canções de travo melancólico servidas por nomes como os Gravenhurst, Talk Talk, Isolée ou International Pony, que aliadas às interpretações e a pontuais cenas criativas (como a de uma inesperada conversa em castelhano) ajudam a que "Um Amigo Meu" seja um filme simpático e agradável, mesmo que de impacto demasiado passageiro. Como o de algumas amizades, de resto.

 

 

"Um Amigo Meu" é um dos filmes da KINO - Mostra de Cinema de Expressão Alemã, presente no cinema São Jorge, em Lisboa, até 6 de Fevereiro

 

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