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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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O bom, o mau e os vilões

James Mangold deve ser dos realizadores mais eclécticos de Hollywood, já que ao longo da sua filmografia, iniciada há pouco mais de uma década - com "Heavy", de 1995, inédito em salas nacionais -, tem testado vários géneros cinematográficos, ainda que nem sempre com a mesma eficácia.

Se as suas passagens pelo drama ("Vida Interrompida"), policial ("Cop Land - Zona Exclusiva") ou biopic ("Walk the Line") lhe renderam merecidos elogios, o mesmo já não se manifestou tanto nas suas experiências com o thriller ("Identidade Misteriosa") ou com a comédia romântica ("Kate e Leopold"), bem menos estimulantes.

 

O seu filme mais recente, "O Comboio das 3 e 10" (3:10 to Yuma), aposta agora em domínios do western, num remake da obra homónima de Delmer Daves, de 1957, e felizmente é mais um a adicionar à lista dos seus títulos recomendáveis.

 

 

Hábil seguidor de uma abordagem clássica, Mangold nunca tentou inventar muito e não é aqui que o faz, mas geralmente isso até joga a seu favor, uma vez que os seus filmes mais convincentes apresentam uma entrega e solidez muito superior à da maioria dos tarefeiros de Hollywood.

 

"O Comboio das 3 e 10" volta a comprová-lo, conferindo entusiasmo à história de um pacato agricultor, ex-combatente da Guerra Civil americana, que se voluntaria para escoltar o criminoso mais procurado do momento até uma cidade próxima, onde apanhará o comboio para a prisão de Yuma.

Pelo caminho, os dois protagonistas encetam um debate moral e, aos poucos, vão percebendo que talvez até nem sejam assim tão diferentes, apesar dos rumos antagónicos que escolheram.

 

A acção não começa de forma especialmente promissora, oferecendo tiroteios e perseguições antes de se debruçar sobre as personagens, mas a partir do momento em que se prepara a jornada rumo ao comboio os protagonistas vão ganhando interesse, e quando o filme termina já se impuseram há muito como duas figuras carismáticas.

 

 

Esse carisma é indissociável do contributo dos dois actores principais, Christian Bale e Russell Crowe, respectivamente o dedicado pai de família e o implacável assassino e ladrão, que oferecem aqui dois desempenhos do qual é difícil escolher um vencedor.

Bale mantém o underacting habitual, com a subtileza que o coloca entre os melhores da sua geração, e Crowe sai do piloto automático que tem minado os seus últimos papéis para encarnar uma personagem dúbia mas magnética, com uma postura entre o ameaçador e o espirituoso.

 

A química que se gera entre os dois ajuda a que a oscilação entre o conflito e cumplicidade das personagens tenha um interesse reforçado, e é vital para que se desculpem algumas implausibilidades da recta final do filme, onde os protagonistas expõem uma destreza quase inacreditável e adoptam atitudes que, caso entregues a actores menos talentosos, poderiam tornar "O Comboio das 3 e 10" numa obra desapontante.

 

 

Sempre um confiável director de actores, Mangold conta ainda com boas prestações de Ben Foster, Peter Fonda ou Gretchen Mol nos secundários, e revela ainda apuro na escolha da banda-sonora, a cargo de Marco Beltrami (justamente nomeada para os Óscares), e mesmo que a realização não se aproxime da excelência também nunca está abaixo da competência.

 

"Escolha Mortal", de John Hillcoat, "Os Três Enterros de um Homem", de Tommy Lee Jones ou "O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford", de Andrew Dominik, já tinham feito interessantes revisitações ao western, e "O Comboio das 3 e 10" destaca-se agora como mais um título recomendável a acrescentar à lista, despertando ainda curiosidade em relação ao próximo projecto de Mangold e ao género em que incidirá.

 

 

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