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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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Nem boa nem má

E ao terceiro álbum, Rihanna fez-se mulher. Ou, pelo menos, auto-proclama-se bad girl, o que já parece ser um passo de afirmação e emancipação, à semelhança do que ocorreu recentemente com outra jovem estrela pop, Nelly Furtado, que deixou para trás grande parte da ingenuidade e candura para adoptar uma atitude mais agressiva, segura e desprendida.

 

 

O título do disco, “Good Girl Gone Bad”, expõe logo essa tentativa de mudança, e parte dos temas acabam por confirmá-la, tanto nas letras como na sonoridade. Também como a cantora luso-descendente, Rihanna envereda aqui por domínios onde o hip-hop e o R&B aceitam contaminações electrónicas, com sintetizadores frequentemente apontados à década de 80, embora a embalagem das canções traduza um som actual, futurista até, com produção limpa e minuciosa (ou não fosse o omnipresente Timbaland um dos colaboradores - mais uma vez, como ocorreu terceiro disco de Furtado).

 

Antecedido pelo hit que se calcula interplanetário, “Umbrella”, com os tais sintetizadores bem demarcados, o álbum possui outros – e melhores – motivos de interesse, caso de “Shut Up and Drive”, onde as guitarras ganham protagonismo e citam “Blue Monday” dos New Order, de forma mais criativa do que “S.O.S”, single do disco anterior, samplou “Tainted Love” dos Soft Cell.

O toque 80s é de novo evidente em “Push Up on Me”, outra canção pop que alia imediatismo a sofisticação, e em “Breakin’ Dishes” Rihanna mostra as garras e grita que não gosta de ser tomada como certa, ameaçando partir (literalmente) a louça toda enquanto camadas electrónicas vão envolvendo o seu manifesto.

 

 

Menos revoltada, embora agora agitada pela euforia das pistas de dança, oferece em “Don’t Stop the Music” um delicioso hino hedonista, misturando electro e disco numa canção portentosa que Madonna não desdenharia para “Confessions on a Dancefloor”.

 

Mantivesse o nível respeitável destes temas, não por acaso os primeiros do disco, e “Good Girl Gone Bad” seria um party album vibrante, mas infelizmente as canções da segunda metade são menos apelativas.

Investindo por domínios mais calmos, ora resultam em temas midtempo genéricos, como “Say It” ou “Hate That I Love You”, insípida colaboração com Ne-Yo, ou mantêm o tom festivo ainda que desprovido das mesmas doses de inspiração, casos de “Sell Me Candy” e “Lemme Get That”, que nem a mão de Timbaland na produção é capaz de elevar acima da competência.

O produtor tem também a seu cargo “Rehab”, cujo título pode remeter para Amy Winehouse mas a sonoridade é inequivocamente Nelly Furtado, agradável embora longe do nível das melhores baladas de “Loose”.

 

 

Mais entusiasmante é “Question Existing”, onde Rihanna se olha ao espelho e expõe a fragilidade que escondeu nas primeiras canções do alinhamento, acolhendo o regresso dos sintetizadores numa atmosfera mais apaziguada e intrigante.

A faixa-título do disco volta a cair num registo morno, e outra coisa não se esperaria de uma óbvia colagem a “Irreplacable”, de Beyoncé, fechando o álbum num tom a milhas da ousadia dos temas iniciais.

 

Bad girl? Talvez, mas pelos vistos não a tempo inteiro, a julgar pela quantidade de rodriguinhos e melodias agridoces que ainda se encontram aqui a espaços, anulando o desafio que Rihanna é capaz de sugerir noutros.

O disco, esse, também não chega a ser mau – em alguns momentos, está mesmo muito longe disso -, ainda que não consiga provar que a sua autora é uma confirmação, deixando-a com o estatuto de promessa pop em percurso ascendente.

 

 

 

Rihanna - "Shut Up and Drive"

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