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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

O que foi ainda volta a ser (ou não?)

O maior problema de discos como "Couples" é começarem demasiado bem, com uma canção que poderá sem dificuldades ficar inscrita entre os singles mais viciantes do ano (e de longe o melhor da banda). Isto porque deixa um nível de expectativa muito elevado e que, infelizmente, nunca é atingido ao longo de qualquer outro momento do alinhamento.

 

Nada que chegue a ser demasiado grave, contudo, quando o segundo álbum dos Long Blondes está longe de ser decepcionante, ganhando mesmo na comparação com a estreia de há dois anos, "Someone to Drive You Home".

 

 

 

Nesse primeiro registo, o grupo de Sheffield foi um dos muitos desta década a revisitar territórios pós-punk, recuperando o apelo pop dos Blondie, a crueza de Siouxsie and the Banshees ou a tensão rítmica dos Elastica, investindo ainda numa eloquência e ironia comparáveis às dos conterrâneos Pulp.

 

Agora, o quinteto não esquece essas heranças mas alarga o espectro ao cruzar as já habituais guitarras aceleradas com atmosferas electrónicas, cortesia da produção de Erol Alkan.

E é ai que entra "Century", o tal primeiro tema do disco - e também o single de apresentação -, que mostra uns Long Blondes quase irreconhecíveis, com uma sonoridade disco de travo místico e onírico onde a vénia a Debbie Harry parece ter sido substituída pela homenagem a Kate Bush ou Grace Jones.

 

Esta aura inebriante não tem, no entanto, correspondência no resto do álbum, nem sequer na canção seguinte, "Guilt", essa sim a tornar bem reconhecível a banda autora de "Weekend Without Makeup" ou "Giddy Stratospheres", o que está longe de ser mau mas revela apenas uma aposta na continuidade em vez de arriscar em domínios mais desafiantes.

 

 

 

O risco volta a surgir noutros episódios, é certo, embora em menos do que se desejaria, e é preciso esperar por mais dois pares de temas para chegar ao próximo, "Round the Hairpin".

Aqui a habitual tensão do grupo está virada do avesso, dando espaço a um ritmo mais pausado sem no entanto prescindir de momentos de efervescência, numa sufocante alternância atmosférica que se revela sedutora tanto pela circular arquitectura sonora como pelos sussurros de Kate Jackson, que consegue dar a frases como "Round the hairpin we go speeding in a rented car" a claustrofobia de que a canção precisa.

 

Hipnótico momento de minimalismo tão experimental quanto industrial, é um exemplo do pico de intensidade que os Long Blondes conseguem criar quando não assentam em temas mais convencionais como "The Couples" ou "Erin O' Connor" - ainda que estes sejam bons momentos de descarga.

 

Outra canção-chave é "Nostalgia", onde a banda comprova ter uma das vocalistas mais expressivas do rock actual.

 

 

 

Jackson oferece neste tema um belíssimo momento de entrega , o mais apaziguado do disco mas nem por isso menos denso, em que a sua voz convive com um piano e discretas programações rítmicas numa canção entre o lamento, a resignação e a esperança.

Poderia chamar-se "Bad Girl Gone Good" - comparações a Rihanna à parte -, com frases reveladoras como "the pretty creatures in the street, the pretty creatures that I like to eat for breakfast/ That's all in the past" ou "I may never have a daughter 'cause I have far too much to tell her/ And far too much to answer for".

 

A tentativa de redenção será, todavia, pouco conseguida, pelo menos tendo em conta o título da canção que fecha o disco, "I'm Going to Hell", que revisita domínios mais ásperos, próximos dos do registo de estreia, e evidencia a hesitação dos Long Blondes em aceitarem ou não a mudança de sonoridade.

 

Só no próximo disco é que se saberá se "Couples" é o álbum de transição que aparenta, mas quer continuem a criar temas na linha dos primeiros dias, como "Here Comes the Serious Bit", ou esbocem novas abordagens como em "Too Clever by Half" de forma tão eficaz, serão sempre uma banda que vale a pena ir acompanhando.

 

 

 

The Long Blondes - "Guilt"

 

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