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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Ainda festivos, mas não muito

Numa das canções de "Donkey", "Give Up", Lovevoxxx canta "Life is just so serious/ You won't make me serious", mas durante a maior parte do disco a segunda afirmação raramente se confirma. Pelo menos quando se comparam os temas aí incluídos com os do primeiro álbum dos Cansei de Ser Sexy, a banda brasileira mais internacional dos últimos tempos.

 

Há dois anos, a estreia em álbum do grupo foi uma das maiores surpresas do panorama pop alternativo, exibindo uma energia contagiante, uma postura despretensiosa e uma amálgama de estilos que, sem renovações de maior, conseguiu definir uma identidade singular.

Com uma produção orgulhosamente lo-fi que em nada comprometia um fortíssimo apelo melódico e um espírito de folia descontrolada, "Cansei de Ser Sexy" confirmou a promessa manifestada nos EPs que percorreram o underground de São Paulo e, depois, a internet.

 

 

Desde então, o quinteto (outrora septeto) foi rapidamente promovido a nova coqueluche indie mais ou menos exótica, estatuto que "Donkey" torna agora algo duvidoso. Não por ser um mau sucessor, já que acerta mais do que falha, mas por diluir os elementos da música da banda que mais geravam entusiasmo, constituindo uma versão pasteurizada das vitaminas pop do primeiro álbum.

 

Mais linear, contido e homogéneo, o disco só ocasionalmente oferece a ousadia e desbragamento do anterior, e embora a banda exiba maior solidez instrumental e vocal o preço a pagar pelo acréscimo de profissionalismo é demasiado alto, levando à perda de grande parte da espontaneidade - e de quaisquer temas cantados em português, alguns dos seus melhores.

 

A produção, a cargo de Spike Stent (Massive Attack, Madonna, Björk) e Adriano Cintra, o único elemento masculino da banda, também contribui para isso, investindo numa polidez que torna o alinhamento quase imune a contrastes.

Há, contudo, excepções, como o primeiro single, "Rat is Dead (Rage)", com óptimas guitarras pilhadas às Breeders ou aos Sonic Youth. Uma das canções mais abrasivas do grupo, sugeriu que a electrónica teria menos protagonismo em "Donkey", o que acabou por confirmar-se.

 

 

Ainda assim esta persiste em alguns momentos, não tanto através de batidas saltitantes mas em sintetizadores que não andam longe dos Killers ou dos Bravery - temas como "How I Became Paranoid" ou "Beautiful Song" não enganam.

Já em "Reggae All Night" servem um groove de base funk, mais festiva, mesmo que longe de devaneios, e na pequena pérola "Believe Achieve" é recuperada a atmosfera do primeiro disco, onde Lovefoxxx está mais carismática do que nunca. Menos apelativa, embora eficaz, "Left Behind" segue modelos de uma teen pop que Avril Lavigne não desdenharia e "Air Panther", a fechar, procura ambientes mais apaziguados e intimistas, pistas talvez a explorar num futuro próximo.

 

Não sendo uma desilusão, "Donkey" também não é o passo em frente que se esperaria de uma banda com uma estreia tão fulgurante. É antes um suficientemente interessante passo para o lado, que mantém algum apelo sem nunca se tornar hipnótico.

Mas não deixa de ser um disco apropriado para a época estival, solarengo e divertido q.b., mesmo que provavelmente tenha um prazo de validade tão limitado como um qualquer amor de Verão.

 

 

 

Cansei de Ser Sexy - "Left Behind"

 

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