Electrónica sóbria, fresca e nórdica
Nos últimos anos, a Suécia tem sido pródiga na oferta de recomendáveis novos artistas, muitos deles com considerável apelo pop assente numa simplicidade acústica ou electrónica - ou na combinação de ambas.
É o caso de nomes como Peter Bjorn and John, Shout Out Louds ou The Legends, e também o de Andreas Kleerup, produtor que agora se estreia no primeiro disco em nome próprio após integrar os Meat Boys.
Com um percurso relativamente discreto até agora, teve contudo um momento de maior visibilidade ao produzir o single "With Every Heartbeat", da conterrânea Robyn, ressuscitando a carreira da cantora e gerando um dos temas mais marcantes da música de dança recente.
Não por acaso, a canção reaparece agora em "Kleerup", mas felizmente acaba por não se destacar muito uma vez que o disco apresenta vários momentos à sua altura e mesmo superiores.
O álbum contém atmosferas semelhantes à desse single, unindo sintetizadores envolventes e orquestrações sóbrias a vozes maioritariamente femininas, os principais elementos de canções imediatas que não se esgotam, no entanto, ao fim de um par audições, graças a uma forte sensibilidade pop e a uma produção apurada.
A lista de vocalistas convidadas também ajuda a explicar os bons resultados, e além de Robyn andam por aqui outras vozes escandinavas como a veterana Neneh Cherry e a sua meia-irmã, Titiyo, a revelação Likke Li ou Lisa Millberg (dos Concretes).
Ainda assim, Kleerup nem sempre precisa delas, mostrando-se não menos convincente em instrumentais ora melancólicos - o atmosférico "I Just Want to Make That Sad Boy Smile", apropriado desfecho do disco - ora dançáveis, embora contidos - caso dos hipnóticos "Hero" ou "Tower of Trellick".
Noutros casos usa a sua própria voz, que não sendo brilhante consegue conferir densidade emocional à electropop reluzente de "On My Own Again", algures entre os Erasure e os Daft Punk de "Discovery", e à circular "Thank You For Nothing", óptimo momento de electrónica invernosa e desencantada - que reaparece com o título "Lay Me Down", com voz de Cyndi Lauper, no novo álbum da cantora.
Outro ponto alto, talvez o melhor do disco, é "Forever", onde uma quase irreconhecível Neneh Cherry partilha o protagonismo vocal com um coro de crianças numa canção de apelo à tolerância. O que poderia cair numa pieguice bem-intencionada resulta numa magnífica canção de travo épico, que consegue ser comovente sem precisar de recorrer a lugares-comuns.
Noutro extremo, uma das novas princesinhas da indie pop, Lykke Li, cativa na mais minimalista "Until We Bleed", onde os seus sussurros quase infantis convivem bem com a elegância electrónica do produtor.
Não tão arrebatadora, "Longing for Lullabies" é quase uma continuação de "With Every Heartbeat", mas agora com a voz de Titiyo, e a breve "Music for Girl", com Lisa Millberg, vale pelo contraste com as restantes ainda que não seja mais do que um pastiche dos também suecos The Knife.
Outro raro episódio menos estimulante é "3AM", onde a voz genérica de Marit Bergman não impressiona numa repetitiva receita italo disco.
Felizmente, momentos menos apelativos como estes não ameaçam a solidez de uma estreia auspiciosa, que mesmo sem trazer grandes rupturas é uma das mais refrescantes propostas de pop electrónica deste ano, com potencial para agradar a vários públicos. Com discos assim, a tradição sueca mantém a forma e recomenda-se.
Kleerup feat. Titiyo - "Longing for Lullabies"