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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Canções para acompanhar o dia ou a noite

Há dois anos, com o seu segundo álbum "Movements", os alemães Booka Shade foram alvo de um aplauso quase consensual, mérito de um disco que tanto incitava ao dinamismo na pista de dança como à inércia num sofá, de preferência com headphones.

 

A sua combinação de house e ambient, onde as batidas não impediam que os temas respirassem, não foi no entanto inédita e teve paralelo, por exemplo, na forma como muitos artistas da editora conterrânea Kompakt ajudaram a consolidar o techno minimal, vincado pelo mesmo hipnotismo e um seguro equilíbrio entre energia e serenidade.

 

 

"The Sun & the Neon Light", o seu sucessor, era por isso aguardado por muitos, desde os seguidores dos primeiros dias a um público mais alargado que descobriu a dupla através de faixas como "Mandarine Girl" e "Body Language", singles com rotação tanto nos bares musicalmente mais estimulantes como em discotecas de adesão massiva.

 

Em vez de apostarem nos caminhos que marcaram esse disco comercial e artisticamente bem-sucedido, Arno Merziger e Walter Kammermeier desviam-se para territórios que até aqui ainda não tinham percorrido, mesmo que essa nova orientação nem sempre seja sinónimo de risco.

Pelo contrário, este é o seu álbum mais imediato, onde pela primeira vez adoptam de facto o formato canção ao apresentarem alguns temas com vozes, em vez de composições exclusivamente instrumentais.

 

 

Longe do pragmatismo dançante dos primeiros tempos, momentos como "Solo City" ou "Sweet Lies" enveredam por uma synth-pop que não esconde a sombra de uns Depeche Mode, ainda que devidamente reenquadrada no livro de estilo Booka Shade: a produção é minuciosa como sempre, com atmosferas milimetricamente desenhadas e uma elegância textural que as torna em episódios envolventes.

Se na primeira canção a pista de dança ainda é uma meta possível, dados os constantes crescendos instrumentais entre palavras cantadas, na segunda o ritmo abranda e origina uma bela balada com embrulho digital.

 

Também com ecos da banda de "Ultra" e "Violator", "Dusty Boots" é um pequeno devaneio electroacústico que tenta provar que o electro e a country podem ser parentes próximos - mesmo não sendo totalmente convincente -, e "Outskirts" ou a faixa-título entram pelo universo das bandas-sonoras, emanando a espaços uma carga épica com a ajuda da German Film Orchestra de Babelsberg.

 

 

 Menos linear do que os registos anteriores, "The Sun & the Neon Light" não é necessariamente melhor mas pelo menos alarga o espectro do projecto, que não sofreu grande alterações do primeiro para o segundo álbum.

Tal como esses, este é um disco interessante embora desequilibrado, pois se nunca oferece maus momentos também raramente atinge níveis superlativos. E peca pelo excesso de duração, já que catorze temas de qualidade variável geram um álbum que nem sempre prende a atenção (sobretudo na recta final), mesmo que nunca seja desagradável enquanto música de fundo.

 

Este regresso dos Booka Shade pode não marcar o ano mas ainda é uma das boas surpresas, que por vezes consegue ascender a outros patamares em faixas como "Charlotte", um infeccioso single que pede praia ou uma festa animada como acompanhamento - ou como diz o título do disco, a luz do Sol ou de néons, que iluminam as pontuais zonas de sombra de uma música que, sem inovar muito, ainda mantém o apelo.

 

 

 

Booka Shade - "Charlotte"

 

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