Três de uma vez
Em época estival as idas ao cinema foram menos frequentes por estes lados, mas como mais vale tarde do que nunca fica aqui a recomendação para três filmes em cartaz:
"Baile de Outono" (Sügisball), a primeira longa-metragem de Veiko Õunpuu, é um raro exemplo do cinema que chega da Estónia a salas nacionais, e deixa boa impressão. A estrutura é a de filme-mosaico, que se tem tornado recorrente nos últimos anos, mas aqui serve muito bem um olhar realista e denso sobre um bairro de Tallinn.
Estudo rigoroso e perspicaz sobre o comportamento e relações humanas - e também um pouco pessimista, ainda que menos do que Bergman, influência assumida -, tempera cortantes cenas de desordem emocional com um oportuno humor negro, que permite que o espectador respire num ambiente frequentemente clastrofóbico.
A narrativa pode ter altos e baixos, mas a direcção de actores é inatacável e Õunpuu oferece sempre enquadramentos impressionantes - as cenas da cidade à noite guardam-se entre as mais belas do ano.
Passando da cidade para o campo, "Aquele Querido Mês de Agosto" assinala o regresso de Miguel Gomes às longas-metragens depois de uma pouco auspiciosa estreia com "A Cara que Mereces".
Muito menos hermético e pretensioso do que o seu antecessor, este retrato de um certo interior português combina ficção e documentário e, mesmo sendo desequilibrado em ambos os casos, contém várias sequências inspiradas que relatam realidades pouco focadas no cinema nacional, desde as festas locais às procissões.
A quase omnipresença de canções populares - vulgo pimba - leva o filme para territórios de um musical atípico, entre o drama, a comédia e o documentário, mas tal como as muitas historietas de episódios do dia-a-dia acabam por pecar por excesso - o que acontece também com as cenas de rodagem do filme, sobretudo aquelas em que o realizador aparece (e tem a "interpretação" mais forçada). E duas horas e meia de duração esticam em demasia uma obra que é várias vezes vítima de tanta redundância.
Mais mediático, e também mais consistente, "Hellboy II: O Exército Dourado" (Hellboy II: The Golden Army) é bem capaz de ser o melhor filme de Guillermo del Toro, estando uns furos acima do antecessor, interessante embora algo formatado.
Com uma energia visual que não esconde que este é um filme do autor de "O Labirinto do Fauno", esta óptima sequela alicerça-se nessa mestria plástica sem nunca comprometer o universo da BD que a inspirou, mantendo-se fiel ao estilo de Mike Mignola.
Há espaço para aventura, humor e alguma carga dramática, e a narrativa nunca é alvo de falhas de tom, um equilíbrio difícil mas que del Toro consegue com fluidez.
História de super-heróis com pózinhos de fantástico (ou será o oposto?), é entretenimento inteligente e irresistível, com mais imaginação por sequência do que 90% dos blockbusters deste Verão e uma carga lúdica como o realizador já não exibia desde o ainda mais destravado "Blade II". Enfim, um dos melhores do ano.