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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

As cores da nova pop australiana

Nos últimos tempos, a Austrália tem sido berço de vários projectos que geraram alguns bons discos através da combinação de rock e electrónica, colhendo influências sobretudo em alguma produção da década de 80 - e não necessariamente num mimetismo pós-punk que causa já desgaste em muitas bandas norte-americanas ou britânicas.

 

Tem sido o caso dos Presets, dos Midnight Juggernauts ou dos Van She, mas também dos Cut Copy, que até anteciparam esta nova vaga de grupos conterrâneos uma vez que editaram o primeiro disco há quatro anos, o promissor "Bright Like Neon Love". Através de bons singles como "Future" ou "Going Nowhere" ganharam alguma projecção internacional, que ultimamente tem sido reforçada com o seu segundo álbum, "In Ghost Colours".

 

 

Se no antecessor o trio de Melbourne unia a synth pop dos anos 80 às texturas do electro e house franceses de finais de 90, suscitando muitas comparações com os Daft Punk e aproximando-se da paleta sonora dos Phoenix, agora as referências mais próximas serão os New Order, influência que a banda não tem tido problemas em assumir e que, embora marque quase todos os seus novos temas, não lhes retira o carisma.

 

Um dos méritos de "In Ghost Colours" é, de resto, esse, o de não tentar sugerir qualquer revolução, optando por uma despretensão que tenta apenas oferecer uma série de boas canções de inegável apelo pop - o que já não é pouco.

A ausência de grandes novidades é compensada pela irresistível carga upbeat da maioria dos temas, com refrões fortes que fazem com que quase todos sejam sérios candidatos a singles, deixando no ar melodias que funcionam tão bem na pista de dança como na rádio (ainda que dificilmente constem em muitas playlists).

 

 

Mais consistente do que o registo anterior, "In Ghost Colours" é um party album convidativo e coeso, que doseia as regulares doses de hedonismo com fugazes episódios melancólicos e intimistas. Os mais animados são, contudo, os mais aliciantes, cujos melhores exemplos são os óptimos singles.

 

O atmosférico "Hearts on Fire" é daqueles para figurar sem grandes dificuldades entre os imprescindíveis do ano, alternando entre o contemplativo e o festivo e tornando-se mais viciante a cada nova audição - em particular quando um trompete interrompe o saudável convívio entre teclados e sintetizadores.

Mais imediato, "Lights and Music" tem direito a segundas vozes e a um ritmo que reforça o impulso dançável, e "Far Away" é electropop cristalina da melhor colheita, que arranca de forma relativamente calma e ganha, próximo do final, um balanço capaz de fazer abanar, pelo menos, o pé dos mais sisudos.

Dentro do mesmo campeonato, "Feel the Love" é outra canção reluzente que abre o disco da melhor forma, onde a voz de Dan Whitford alterna o protagonismo com um vocoder bem-comportado entre electrónica borbulhante, e "Out There in the Ice" vai da pop à explosão rave, e garante na segunda metade um dos picos de intensidade do álbum.

 

 

Se estes cinco temas mostram os Cut Copy em grande forma, os restantes momentos de "In Ghost Colours" perdem todos na comparação, ainda que haja boas surpresas na delicadeza etérea de "Strangers in the Wind" ou no embalo cativante de "Nobody Lost, Nobody Found", que poderia fazer parte do alinhamento de "Technique", dos New Order (sim, a comparação é mesmo inevitável).

Já quando a banda investe na presença das guitarras (caso de "Unforgettable Season") o resultado é mais banal - como o são as letras de todas as canções -, e os muitos interlúdios intrumentais acabam por não contribuir para a fluidez do álbum, apenas reforçando os contrastes entre os grandes momentos atrás referidos e a mediania que os envolve.

 

Nada de grave, no entanto, pois se não é desta que os Cut Copy apresentam um disco à altura dos seus muito recomendáveis singles, dão aqui um claro passo em frente e reforçam, ainda, a ideia de que são dos nomes mais promissores na arte de dar novas cores à pop - não obstante as referências mais ou menos óbvias.

 

 

 

Cut Copy - "Lights and Music"

 

Entrevista à banda