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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Ponto de equilíbrio

A partir do seu terceiro disco, "The Ideal Crash" (1999), os dEUS apostaram numa polidez algo inesperada para quem os associava a irreverência e experimentalismo, elementos que tornaram a banda belga numa das mais aplaudidas do rock alternativo da década de 90.

Reduzindo a efervescência, o álbum gerou estranheza em muitos seguidores do grupo mas ofereceu algumas das suas mais absorventes composições, não sendo tão surpreendente como os anteriores embora o tenha compensado com mais consistência.

 

Desde aí até ao álbum seguinte a banda manteve um hiato de sete anos, regressando com o interessante "Pocket Revolution" (2006), mais uma boa colecção de canções onde a carga abrasiva dos primeiros discos voltou a evidenciar-se, ainda que os melhores momentos tenham sido os que mantiveram uma placidez comparável à de "The Ideal Crash".

 

 

"Vantage Point", o quinto álbum de originais da banda, investe em sonoridades ainda mais calmas do que as desse disco, sendo escassos os episódios em que as guitarras aceleram, o que nem sempre é muito positivo mas está longe de tornar o resultado numa decepção.

 

Sem grandes contrastes entre as atmosferas da maioria dos temas, este é o registo mais linear dos dEUS, mesmo não sendo mais imediato já que as composições da banda continuam a precisar de tempo para se revelarem, e quem lhes der essa oportunidade pode confirmar que Tom Barman continua a ser um confiável escritor de canções.

As que apresenta aqui não serão das mais inspiradas da discografia do grupo, mas os momentos sedutores são mais frequentes do que os medianos e o alinhamento apenas começa a fraquejar no final, embora aí "Vantage Point" já se tenha imposto como um álbum recomendável.

 

 

Desta vez, a voz de Barman é complementada por outras em quatro temas, ainda que de forma ténue. Karin Andersson, dos The Knife, colabora no single "Slow", afastando-se da electrónica através da qual se notabilizou com o seu grupo numa canção que, contudo, mantém comparáveis tons frios e sinuosos.

 

Já "Eternal Woman" mergulha numa atmosfera mais calorosa, com as palavras de Barman sublinhadas pela discreta presença de Lies Lorquet, dos Mintzkov, num dos mais belos e intimistas episódios do disco (não muito longe de "Include Me Out" ou "Nothing Really Ends", de "Pocket Revolution").

"The Vanishing of Maria Schneider" conta com um convidado masculino, Guy Garvey, dos Elbow, mas não resulta tão bem, com melodias mais banais ainda que a letra seja uma curiosa ode à eterna beleza feminina inspirada na actriz de "O Último Tango em Paris".

A fechar o álbum, "Popular Culture" convoca uma presença mais inesperada, a de um coro infantil que se alia a Barman num tema que, como o titulo sugere, incide no modo como a cultura pop influencia a personalidade e as relações.

 

 

Antes, "Vantage Point" exibe uma cativante sensibilidade pop em "When She Comes Down" e reforça-a na vibração funk de "The Architect", seguramente uma das canções mais trautáveis dos dEUS, um single óbvio e o um atípico momento dançável num disco relativamente tranquilo.

Ainda mais contagiante, "Favourite Game" é a grande canção do álbum, alicerçando-se numa guitarra nervosa e num Tom Barman descontrolado q.b. para desenhar um respeitável concentrado de tensão, disparando um refrão irresistível que funciona ainda melhor ao vivo - e cuja letra é a mais explícita que o músico diz já ter escrito, relatando uma noite de insinuação e disputa a dois.

 

É pena que momentos como este, capazes de resgatar a intensidade e energia dos primeiros dias do grupo, não se manifestem com maior frequência, pois se fosse o caso "Vanishing Point" seria um discos obrigatórios do ano. Assim é uma muito digna colecção de canções que não compromete o percurso de uma banda segura, mesmo estando longe do seu pico criativo.

 

 

 

dEUS - "Favourite Game"

 

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