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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Rock sombrio numa noite de fé e devoção

Acolhidos pelo público português desde os primeiros dias, em meados da década de 90, os dEUS têm conseguido manter um invejável estatuto de banda de culto ao longo de vários anos e de cinco álbuns (e um EP), mesmo que os mais recentes estejam longe de gerar a surpresa de "Worst Case Scenario" (1994) ou "The Ideal Crash" (1999).

 

Nada que comprometa, no entanto, a consistência de um grupo que nunca deixou de escrever boas canções e que soube distinguir-se por uma contagiante postura ao vivo, qualidades que a noite de ontem, na Aula Magna, em Lisboa, permitiu conferir mais uma vez.

 

 

Sem grandes diferenças de alinhamento face ao espectáculo apresentado há meses, no festival Paredes de Coura, o quinteto belga intercalou vários temas do recente "Vantage Point", editado este ano, com clássicos da geração alternativa da década passada.

"Instant Street", o segundo a incendiar a noite, foi um desses, e aos primeiros minutos deixou claro que aquele dificilmente seria um concerto para se assistir sentado - como de resto o vocalista Tom Barman assinalou ao entrar em palco, desafiando os espectadores a ficarem de pé até ao final, repto que foi seguido pela maioria como um mandamento irrecusável.

 

Só uma banda com um carisma atípico é que conseguiria gerar um ambiente como o que se verificou, com gente por todos os recantos da sala, não só nas cadeiras mas ao longo das escadas e corredores. Se é verdade que parte do público já estaria conquistado à partida - o que até é habitual em muitos concertos por cá -, não o é menos que o grupo foi no mínimo convincente.

 

 

Mais efervescentes e abrasivos do que nos discos, saíram-se especialmente bem quando investiram num rock tenso e negro (literalmente, com iluminação a condizer), que teve no fantasmagórico "Theme From Turnpike" o eventual momento de eleição.

Ou talvez no crescendo visceral de "Bad Timing" e nas suas viciantes descargas de guitarra. Ou terá sido na construção espartana de "Fell Off The Floor, Man" e nas rajadas sónicas que alimentam o refrão?

 

Não esquecendo, claro, o inevitável e quase interminável (no bom sentido) "Suds & Soda", talvez o episódio de maior química entre a banda e o público, os rodopios alucinantes de "For the Roses" (séria candidata a melhor canção do grupo) ou o desvario gutural e destravado de "Favourite Game", o tema-chave de "Vantage Point".

 

 

 

Entre estes exemplos de rock agreste a actuação contemplou ocasionais cenários de descompressão, onde brilharam temas não menos obrigatórios como "Nothing Really Ends" ou "Little Arithmetics", embora destes momentos tenha sido "Serpentine" o que criou a atmosfera mais dolente e memorável, já no encore, pouco antes da despedida - que chegou demasiado cedo a um concerto que não durou mais de hora e meia.

 

Mas se este, a par de ocasionais problemas de som, foi o único defeito de uma actuação que alternou entre o muito bom e o excelente, adivinha-se que os dEUS voltarão a ter inúmeros seguidores quando regressarem a Lisboa pela enésima vez. Antes disso, a banda actua amanhã no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, onde muito provavelmente será recebida por mais uma dedicada legião de seguidores.

 

 

Fotos: Vera Moutinho

 

 

dEUS - "The Architect"

 

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