A festa continua
Com o seu disco de estreia, "Employment" (2005) os Kaiser Chiefs ficaram bem colocados na lista de promessas britânicas, à custa de um pós-punk dinâmico e festivo que não se poupava, contudo, a um olhar irónico sobre o quotidiano de terras de Sua Majestade.
A carga mordaz manteve-se no seu sucessor, "Yours Truly, Angry Mob" (2007), registo que acabou por desapontar ao não oferecer tantos hinos de sabor imediato como "I Predict a Riot", "Everyday I Love You Less and Less" ou "Modern Way".
No recente "Off With Their Heads", editado apenas um ano depois desse segundo disco algo irregular, o quinteto de Leeds não chega a atingir os melhores momentos dos primeiros dias mas deixa claro que, pelo menos por enquanto, foi capaz de superar um episódio menos criativo.
Não é que o novo álbum do grupo seja particularmente surpreendente, embora evidencie uma fluidez, entusiasmo e vitalidade que só a espaços se encontravam no antecessor. O mérito não será só da banda, uma vez que a produção, a cargo do cada vez mais requisitado Mark Ronson, consegue injectar alguma modernidade nos arranjos de canções cuja forma é tendencialmente clássica e muito britânica, resgatando traços de outros cronistas espirituosos onde tanto cabem uns XTC como uns Madness ou uns Blur da fase inicial.
Junte-se a Ronson as discretas mas relevantes colaborações vocais de Lily Allen e dos elementos femininos dos New Young Pony Club, o minimalismo orquestral de David Arnold ou o interlúdio rap de Sway em "Half the Truth" e fica claro que "Off With Their Heads" resulta no disco mais elaborado dos Kaiser Chiefs - não necessariamente o melhor -, mesmo que a maioria do alinhamento ainda exiba, pelo menos aos primeiros contactos, um despojamento que faz de momentos como "Always Happens Like That" ou "Like It Too Much" temas orelhudos e trauteáveis.
Esta suave operação de cosmética não disfarça que a fórmula do grupo está longe de ser nova, e quem não aderiu às suas canções até agora dificilmente mudará de ideias.
Já os restantes, e que porventura esperariam mais do disco anterior, talvez ainda encontrem motivos de interesse num single inacatável como "Never Miss a Beat", com um dos refrões mais memoráveis do ano, na pista de dança que se impõe a meio de "You Want History", através de um rodopio de sintetizadores, no intimismo melancólico de "Remember You're a Girl" ou no devaneio quase mariachi de "Spanish Metal".
Há pouco mais de dez anos, em plena euforia britpop, seriam motivos mais do que suficientes para fazer dos Kaiser Chiefs nomes maiores do género. Hoje não chegam para tornar "Off With Their Heads" num dos álbuns obrigatórios de 2008, mas ainda chegam para comprovar que, ao contrário de outros da sua geração, o grupo não morreu ao segundo disco.
Kaiser Chiefs - "Never Miss a Beat"