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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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As novas cores dos Keane

O novo disco dos Keane não fará propriamente justiça ao título - "Perfect Symmetry" -, mas tendo em conta os registos anteriores da banda britânica é o que está mais próximo de lá chegar.

 

Isto porque o terceiro álbum do trio pode orgulhar-se de ser, pelo menos, o que mais se aproxima de um equilíbrio perfeito entre as letras emocionais e melancólicas de Tom Chaplin - aqui um pouco mais cínicas do que o habitual ("When we fall in love/ we're just falling in love with ourselves") - e as melodias imediatas de um alinhamento onde quase todas as canções têm perfil de single.

 

 

No entanto, desta vez a aposta não é tanto a de preencher o disco com temas de um registo baladeiro na linha daqueles que trouxeram maior mediatismo ao grupo - como "Everybody's Changing" ou "Somewhere Only We Know" - mas antes a de lhes injectar um dinamismo e elasticidade que se julgaria incompatível com os Keane.

 

A tentativa de mudança com alguma ousadia é apreciável e, mesmo que não gere grande revoluções - apesar de tudo, a maioria das canções mantém um perfil radiofónico e midtempo - o resultado é o mais interessante apresentado até agora.

 

O primeiro single e tema de abertura do álbum, "Spiralling", é uma apelativa porta e entrada e, além de valer por si, resume bem o que o resto de "Perfect Symmetry" tem para oferecer.

 

 

A sua cadência dançável mostra uns Keane atipicamente festivos e mostra o rumo que, por exemplo, os Killers poderiam ter seguido no também recente "Day and Age", de cuja sonoridade outras canções do disco se aproximam ainda que - e felizmente - sem uma carga barroca e nostálgica tão acentuada.

 

A proximidade entre as bandas poderá explicar-se pela partilha do produtor, Stuart Price, que já havia promovido o regresso de Madonna aos anos 80 em "Confessions on a Dance Floor" e que aqui dá ao trio um refrescante tempero rítmico, mantendo a estrutura das canções dos Keane mas adornando-as com saudáveis doses de electrónica.

 

A sobriedade que o grupo sempre pareceu defender permanece intacta - talvez por Jon Brion, ligado a Aimee Mann ou Fiona Apple, ser outro dos colaboradores - e as canções saem a ganhar com o reforço de teclados e sintetizadores.

 

Nem todas chegam a convencer, já que "The Lovers are Losing", das mais formatadas e genéricas, podia estar num dos últimos discos dos U2, e "Perfect Symmetry" não anda longe do registo recente (e balofo) de uns Coldplay.

 

 

Estas são, contudo, compensadas pela conseguida alternância entre a carga plácida e épica de "Playing Along", pela oportuna citação de "Ashes to Ashes", de David Bowie, na cativante "Better Than This" ou pela nada vergonhosa colagem aos Radiohead na primeira (e melhor) metade da intimista "Love is the End".

 

Ainda assim, os melhores momentos ficam entregues à synth pop melancólica de "You Haven't Told Me Anything" e ao electrofunk upbeat de "Pretend That You're Alone", onde a primeira podia ser uma homenagem aos A-ha e a segunda aos Duran Duran - e ambas inspiradas.

A presença de tantas comparações denuncia que aos Keane ainda faltará, apesar da relativa mudança de direcção, um pouco mais de personalidade e ideias, mas a banda parece acreditar que a perfeição existe e talvez "Perfect Symmetry" seja o primeiro passo para que se aproxime dela.

 

 

 

Keane - "Spiralling"