Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

A escola e a família, da Alemanha para Lisboa

 

 

Se o recente "A Turma", de Laurent Cantet, teve o mérito de abordar com rara perspicácia e sentido de oportunidade a problemática do ensino, não é felizmente o único exemplo bem-sucedido a mergulhar nessa questão.

 

"Luta de Classes" (Klassenkampf), o novo documentário de Uli Kick, repórter e realizador, parte de uma premissa semelhante ao acompanhar uma turma do 9º ano de uma escola de Munique, mas onde a obra de Cantet era um exercício ficcional que quase passava por documental, aqui ocorre o oposto.

O filme evidencia a experiência de jornalista do seu autor e é hábil no encadeamento entre depoimentos dos alunos e professores, entrecruzando-os com situações do seu quotidiano dentro e fora da escola.

 

Embora foque uma turma vincada por vários contrastes, uma vez que a maioria dos alunos são filhos de imigrantes e nem todos têm condições de vida especialmente aprazíveis, Kick nunca cai no miserabilismo nem faz desta hora e meia um panfleto social.

Em vez disso desenha um retrato simultaneamente sério, comovente e divertido sobre o caminho para a idade adulta e as escolhas, por vezes conturbadas e precoces, que os seus protagonistas são obrigados a fazer.

Um belo exemplo do melhor cinema documental, onde o óbvio baixo orçamento em nada compromete um olhar atento e singular.

 

 

 

Premiada em vários festivais internacionais, "O Estranho que há em Mim" (Das Fremde in mir) é a terceira longa-metragem de Emily Atef, e de acordo com a realizadora surgiu da necessidade de retratar uma situação que afecta cerca de 80 mil mulheres por ano na Alemanha mas que raramente é focada no cinema: a depressão pós-parto.

Aqui está na origem de um drama centrado num jovem casal cujo equilíbrio conjugal é ameaçado quando a esposa, Rebecca, não consegue adaptar-se ao novo dia-a-dia após o nascimento do filho.

 

Incapaz de se relacionar com a criança e dominada por uma ansiedade crescente à medida que passa mais tempo com ela, a protagonista chega a colocar a segurança do recém-nascido em risco e instala em "O Estranho que há em Mim" uma intensa e imprevisível viagem psicológica e emocional.

 

Atef aposta numa realização despojada e realista, próxima dos domínios da Nova Escola de Berlim, e se o ritmo da narrativa nem sempre é o mais cativante a óptima direcção de actores compensa-o.

Susanne Wolff, no papel principal, é especialmente notável - pense-se numa Norah Jones à beira do colapso - e apesar de alguns episódios extremos o argumento nunca julga as personagens nem se perde em explicações desnecessárias, dando espaço para o espectador tirar as suas próprias conclusões e oferecendo-lhe um dos mais belos e simples desenlaces dos últimos tempos.

 

 

"Luta e Classes" e "O Estranho que há em Mim" foram exibidos ontem na KINO - Mostra de Cinema de Expressão Alemã, a decorrer até 29 de Janeiro no Cinema São Jorge, em Lisboa

 

5 comentários

Comentar post