(Bad) girls & (good) boys
Em vésperas de Carnaval, sexta-feira prometia ter uma noite de festa no Lux, em Lisboa, ao aliar dois dignos representantes da electrónica lúdica e dançável do momento: os dinamarqueses WhoMadeWho e as alemãs Chicks on Speed.
E durante a actuação dos primeiros, dificilmente alguém terá ficado decepcionado, já que o trio de Tomas Barfod, Jeppe Kjellberg e Tomas Hoffding mostrou-se consistente e dedicado na sua mistura de punk funk com disco e pontuais contaminações electro.
A fusão que o grupo propõe, tanto no álbum de estreia homónimo como no novo "The Plot" (a editar em Março) está longe de ser original e nem sempre se distingue muito da de outros projectos que, nesta década, revisitaram o caldeirão pós-punk (aqui com maior ênfase no legado dos Gang of Four), mas resulta eficaz em disco e ainda o é mais ao vivo.
Equipados com fatos de lycra a preto-e-branco, um deles a imitar um esqueleto - que são já habituais na banda e não motivados pelas festividades da época -, acolheram os primeiros espectadores aos quais rapidamente se juntaram muitos outros, e ao fim de cerca de quarenta minutos a moldura humana dominava já toda a sala.
A força do baixo, guitarra e bateria, complementada pela envolvência da electrónica, deu ao concerto uma considerável pulsão rítmica que nunca se perdeu ao longo de um alinhamento que conjugou bem temas dos dois álbuns.
Sem serem geniais, as canções dos WhoMadeWho comprovaram que cumprem perfeitamente a sua missão quando o que se pede é música festiva e hedonista, e os bons resultados foram visíveis numa multidão que correspondeu aos disparos de energia encetados pelo grupo.
A fechar em grande uma actuação equilibrada, o ponto alto ficou a cargo de uma versão de um tema quase obrigatório em serões electro.
"Satisfaction", de Beni Benassi, impõs-se como o melhor momento de uma noite que, infelizmente, perdeu grande parte do apelo a partir do momento em que o palco passou a pertencer às Chicks on Speed.
Embora a formação da banda seja um trio, apenas dois elementos marcaram presença, e se quando partilharam o protagonismo com os WhoMadeWho - tanto no muito prolongado "Satisfaction" como mais tarde, em "Wordy Rappinghood" - ainda conseguiram convencer, o mesmo não ocorreu em grande parte do concerto.
Ou seria um DJ set? A própria banda admitiu não saber bem ao que ia, o que se tornou evidente numa actuação que uniu os dois registos sem ser particularmente sedutor em nenhum deles.
Antes pelo contrário, não foram poucas as ocasiões de gritante indigência que não deve ser confundida com a atitude punk e do-it-yourself que o grupo defende como um dos seus elementos-chave.
Mais do que musical, as Chicks on Speed são um projecto multidisciplinar que passa pelo design, vídeo, moda ou instalações de arte, mas se nestes quadrantes até podem ser uma proposta interessante, no Lux mostraram que na vertente musical não vão além de um mal disfarçado amadorismo.
Os discos, longe de obrigatórios e apesar de optarem em demasia por versões de referências do pós-punk (como as Au Pairs, B-52's ou Malaria!), conseguiam pelo menos divertir, algo que ao vivo só resultou com muitas doses de boa vontade (ou de álcool).
Admita-se que a sua presença em palco foi imprevisível, embora o efeito tenha sido quase o de andar durante uma hora num carrossel (com mais baixos do que altos) onde nem sequer faltou música de feira (algum techno duvidoso a roçar o trance).
Infelizmente os apelativos efeitos de cores do grande ecrã colocado ao fundo não tiveram contraponto no desempenho das duas protagonistas, incapazes de cantar ou dançar de forma especialmente entusiasmante.
"We Don't Play Guitars", um dos seus hinos, já dava a entender que a banda não tocaria nenhum instrumento (à excepção de algumas brincadeiras com um saxofone), reforçando o efeito karaoke do espectáculo, e como DJs também não impressionaram, oferecendo algumas das piores passagens já ouvidas no Lux - as quebras de ritmo manifestaram-se ainda num medley onde canções como "Fashion Rules!" ou "Euro-Trash Girl" se atropelaram consecutivamente.
Ainda assim, e mesmo que parte do público tenha saído durante a actuação, a dupla manteve muitos espectadores animados até ao final, para o qual contribuiu convidar mais de uma dezena para o palco, uma das manobras de distracção que não colmatou, no entanto, a inconsequência de um espectáculo com um desagradável sabor a embuste.
WhoMadeWho
Chicks on Speed
WhoMadeWho - "TV Friend"
Dave Clarke feat. Chicks on Speed - "What Was Her Name?"