Pop descontrolada, e ainda bem
Entre os seus fãs conta-se gente tão diversa como os Pet Shop Boys, os Arctic Monkeys, Chris Martin ou Duff McKagan (Guns n' Roses/Velvet Revolver).
Surgiram através de um concurso televisivo, "Popstars: The Rivals", mas contrariamente a muitos projectos fabricados não tiveram um percurso efémero e somam já cinco álbuns e um best of.
Alguns dos seus temas, apesar de feitos a pensar nas playlists, são mais imaginativos e ousados do que os de muitos projectos supostamente experimentais e underground. Por estas e outras razões, as Girls Aloud estão longe de ser uma girl band qualquer, e se até aqui já tinham surpreendido, sobretudo nos singles, em "Out of Control" apresentam o seu disco mais consistente.
Admita-se que, se canções fortíssimas como "No Good Advice", "Swinging London Town" ou "Something Kinda Oooh" ajudaram a fazer do grupo um nome a ter em conta, grande parte do mérito não será tanto das cinco integrantes (cujas vozes e ar "saudável" pouco diferem dos de tantas outras), mas da equipa de produção Xenomania.
Afinal, é a esta que se deve a power pop à base de guitarras e electrónica que está na origam dos melhores temas das Girls Aloud, cuja matriz foi reproduzida, por exemplo, no mais recente disco de Annie e poderá manter-se no próximo dos Pet Shop Boys, com os quais colabora.
De resto, a dupla de "West End Girls" ou "Go West" é responsável por parte da composição de "The Loving Kind", um dos singles de "Out of Control", agradável cartão de visita mas que até nem é dos melhores momentos do álbum.
No seu disco mais diversificado e coeso, a que não será alheio o facto de dispensar baladas (os piores momentos dos anteriores), o quinteto prova porque é das poucas (ou mesmo única?) girl bands do momento que valem a pena, sobretudo depois das outrora interessantes Sugababes terem decepcionado nos últimos registos.
O forte apelo melódico continua presente, embora agora nem sempre seja tão imediato como antes, o que geralmente acaba por ser uma vantagem já que certos temas dos antecessores, embora trauteáveis, rapidamente se tornavam cansativos.
Aqui isso ainda ocorre na primeira faixa, "The Promise", que se cola sem grande carisma aos cânones dos girl groups dos anos 60, ou em "Fix Me Up", cujas letras supostamente irreverentes não têm reflexo numa estrutura banal.
Mas exceptuando estes momentos, todos os outros de "Out of Control" justificam audições atentas.
E se "Revolution in the Head" (cujo dancehall faria mais sentido num álbum de Rihanna) ou "Rolling Back the Rivers in Time" (a que nem a guitarra do ex-Smiths Johnny Marr eleva acima do simpático) ainda podem deixar algumas dúvidas, estas são dissipadas por um monumento pop como "Untouchable".
Talvez a melhor canção de sempre das Girls Aloud, dura quase sete minutos e revela o refrão muito depois do arranque. Além desse arrojo, conquista pela electropop espacial que viaja do contemplativo ao eufórico rumo a um invejável oásis sonoro.
Quase tão arrebatadora, "Turn to Stone" é mais melancólica mas não menos dançável, mergulhando em sintetizadores rodopiantes e oferecendo um dos refrões mais absorventes do grupo.
Também alicerçada na electrónica de finais de 80 e inícios de 90, "Love is Pain" é outro ponto alto e o tom igualmente soturno mostra o que poderiam ser umas Client com maior fulgor pop.
Mais upbeat, "Love is the Key" não mantém este arrojo mas é um curioso relato de opostos que se atraem, contado em tom irónico, e "Live in the Country" propõe uma incursão pelo drum n' bass com direito a ruídos de animais de uma quinta (e estranhamente resulta).
"Miss You Bow Wow" é pop destravada, orelhuda e bem confeccionada e "We Wanna Party" encerra a montanha-russa de géneros ancorando-se num rock directo e eficaz.
Fazendo o balanço, "Out of Control" acerta bem mais do que falha, e num cenário mainstream feito de inúmeros hits descartáveis e discos ainda mais pobres, as Girls Aloud evidenciam que imediatismo não é incompatível com criatividade. Espera-se que continuem a conseguir manter este louvável equilíbrio.
Girls Aloud - "Love is Pain (Live)"