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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Música para (bons) filmes imaginários

A Cinematic Orchestra distinguiu-se sobretudo por alturas da edição do seu primeiro disco, "Motion", editado há dez anos, e que ainda hoje é considerado um dos registos fulcrais no casamento (feliz) entre jazz e electrónica.

"Every Day" (2002) manteve um entusiasmo quase consensual entre os seguidores da música de dança simultaneamente elegante e experimental, mas em "Ma Fleur" (2007) o colectivo britânico não se mostrou tão determinante, oferecendo canções mais pasteurizadas e lineares.

 

Ainda assim, a julgar pela enchente registada quinta-feira na Aula Magna, em Lisboa, o projecto criado pelo compositor e multi-instrumentista Jason Swinscoe está longe de cair no esquecimento.

 

 

O motivo do concerto foi ainda a promoção do seu terceiro álbum, que mesmo sendo o menos obrigatório da sua discografia não deixou de ser acolhido por uma sala cheia, talvez porque muitos dos presentes tivessem na memória a elogiada actuação da banda no Lux, em 2002, e esperassem um espectáculo ao mesmo nível.

 

Na primeira das duas únicas actuações da banda em palcos europeus este ano (a segunda foi ontem no Teatro Sá da Bandeira, no Porto), Swinscoe mostrou-se afável nos breves contactos com o público, agradecendo a concentração dos espectadores e os muitos aplausos com que foi sendo presenteado (embora sem as manifestações de histeria que por vezes atropelam as canções).

 

E os aplausos foram merecidos, pois se a Cinematic Orchestra pode já ter sido mais estimulante em disco, ao vivo mantém a capacidade para unir géneros e tendências num todo fluído e coerente.

 

 

 

A conjugação de traços jazzísticos com electrónica que tanto deve ao trip-hop, ao breakbeat, ao downtempo ou a música de bandas-sonoras encorajou, ao longo de pouco mais de hora e meia, envolventes momentos de dinamismo rítmico e outros mais contemplativos e planantes.

 

Intercalando instrumentais com temas cantados por uma vocalista de escola soul, que substituiu bem a veterana Fontanella Bass - a cantora habitual dos álbuns do grupo -, e por Grey Reverend - responsável também pela simpática primeira parte em modo acústico -, o concerto apresentou uma sedutora alternância de ambientes e texturas.

 

Com oito elementos em palco - nem sempre em simultâneo -, o colectivo interpretou temas que conciliaram guitarra acústica e eléctrica, saxofone, contrabaixo, piano, clarinete ou bateria.

A vertente orgânica impôs-se assim às discretas manipulações electrónicas de Swinscoe, o que pontualmente gerou algumas cansativas demonstrações de virtuosismo - caso da versão demasiado longa de "Ode to the Big Sea", uma das canções repescadas de "Motion" -, mas potenciou também episódios de inesperada intensidade - a excelente fricção entre bateria e guitarra na recta final do concerto.

 

 

Após este último a Cinematic Orchestra despediu-se com duas das suas canções mais emblemáticas no obrigatório encore. "To Build a Home" foi da serenidade acústica à efervescência eléctrica e "All That You Give" fechou a noite em alta preservando a languidez hipnótica que a tornou num dos momentos mais fortes de "Every Day".

 

A actuação seria porventura mais memorável caso apostasse em mais canções desse disco - "Evolution", em particular, foi uma ausência inesperada - e se contasse com as vozes presentes nos álbuns - Patrick Watson, Lou Rhodes (dos Lamb) e Fontanella Bass.

Nada de grave, contudo, quando o resultado originou paisagens sonoras quase sempre convidativas e ocasionalmente inebriantes.

 

 

 

The Cinematic Orchestra - "To Build a Home"

 

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